Fundos europeus

Portugal não cumpriu com sete metas do PRR, mas não deixou de ter acesso ao financiamento europeu

Auditoria do Tribunal de Contas Europeu encontrou irregularidades em sete países beneficiários do Mecanismo de Recuperação e Resiliência, incluindo Portugal. O risco de não cumprir as metas e marcos em tempo útil poderá resultar em perdas de financiamento

Johanna Geron/Reuters

Uma auditoria realizada pelo Tribunal de Contas Europeu (TCE) concluiu que sete marcos e metas associadas a pagamentos já realizados pela Comissão Europeia (CE) a Portugal no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) não foram, afinal, cumpridos de forma satisfatória. Itália, Áustria, República Checa, França, Malta e Grécia foram identificados no rol dos países com irregularidades.

Em causa estão objetivos relacionados com a operacionalização de comandos regionais e subregionaisda Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil; a criação de um sistema seguro de comunicações móveis para os funcionários do governo; a implementação da estratégia nacional para as compras públicas ecológicas; e o alargamento da rede de carregamento de veículos elétricos.

Para este trabalho, com horizonte até 2023, o TCE auditou €53,5 mil milhões e incluiu os 23 pagamentos de subvenções, no montante de €46,3 mil milhões, bem como o apuramento do respetivo pré-financiamento, no montante de €7,2 mil milhões. A análise incidiu sobre 325 marcos e 127 metas e contou com uma verificação no terreno a 30 das metas em seis Estados-membros.

De acordo com o relatório divulgado esta quarta-feira, dos 452 marcos e metas examinados globalmente, 16 não cumpriam as condições de pagamento ou de elegibilidade”. Este número resulta de sete cheques desembolsados a sete países. Os erros observados pelo auditor não se cingem apenas ao cumprimento insatisfatório de marcos e metas: incluem também “medidas iniciadas antes do período de elegibilidade e a substituição de despesas orçamentais nacionais recorrentes”.

Numa sessão de esclarecimento aos jornalistas, João Leão, atual membro do Tribunal de Contas Europeu, adiantou que a autoridade já comunicou as irregularidades à CE. Agora, explicou o ex-ministro das Finanças português, “cabe à Comissão Europeia dar seguimento a esta indicação do TCE”. A entidade liderada por Ursula von der Leyen “pode pedir aos Estados-membros implicados informação adicional ou mesmo que tomem ações adicionais para cumprir essas metas e marcos”, concluiu.

De recordar que os países beneficiários do Mecanismo de Recuperação e Resiliência (MRR) podem solicitar pagamentos, no máximo, duas vezes por ano, desde que comprovem de modo suficiente o cumprimento satisfatório dos marcos e das metas correspondentes”, devendo acompanhar as solicitações de um resumo de auditorias e de uma declaração de gestão relativa às informações apresentadas. Num passo seguinte, os sistemas de controlo da Comissão incluem avaliações e auditorias antes e depois dos pedidos.

O problema, segundo o Tribunal, é que, embora a CE tenha atualizado a sua estratégia de auditoria,continuam a verificar-se “insuficiências persistentes nos sistemas de comunicação de informações e de controlo dos Estados-membros, o que põe em causa a proteção dos interesses financeiros da UE, com eventual impacto na regularidade das despesas”. Por esse motivo, o TCE insta a Comissão a reforçar os seus mecanismos de acompanhamento e controlo.

No seguimento dos erros constatados a autoridade europeia emitiu uma opinião com reservas” sobre a despesa do MRR. De recordar que este instrumento, criado para financiar reformas e investimentos em áreas como a transição verde e digital, desempenha um papel crucial em países como Portugal, que é o quinto da área do euro a receber mais fundos em percentagem do PIB (2019): 10,4%, o equivalente a €22,2 mil milhões.

Uma vez mais, o TCE levantou preocupações sobre a capacidade de absorção e execução dos fundos até ao final do período de vigência do mecanismo, em 2026. O risco de não cumprir as metas e marcos em tempo útil poderá resultar em perdas de financiamento, o que representa um desafio adicional para o país. Recentemente, oministro da Coesão, Manuel Castro Almeida, alertou para o risco de eleições antecipadas, assegurando que, caso aconteçam, o PRR não será executado.

Nota: correção do número de metas e marcos não cumpridos de forma satisfatória por Portugal - foram sete e não oito.