Quatro acionistas da Global Media, entre eles Marco Galinha, empresário que controlou o grupo até setembro, acusam o World Opportunity Fund, que controla a maioria do capital, de “manifesto incumprimento quanto a obrigações relevantes dos contratos, que, ao não ter ocorrido, teria permitido o pagamento dos salários e o cumprimento de outras responsabilidades da empresa”.
Marco Galinha vendeu parte significativa do capital da Global Media ao fundo, sedeado no paraíso fiscal das Bahamas e controlado pela Union Capital Group. O World Opportunity Fund tem estado na mira da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) por ainda não ter enviado toda a informação que permita esclarecer quem são afinal os donos deste grupo de comunicação social, que controla meios como o Diário de Notícias, Jornal de Notícias, TSF e O Jogo.
Num esclarecimento feito esta sexta-feira de manhã, o proprietário do grupo BEL, assim como mais três acionistas - Kevin Ho, José Pedro Soeiro e Mendes Ferreira – referem que “têm acompanhado com atenção e grande preocupação os acontecimentos tornados públicos relativos ao não pagamento de salários aos trabalhadores e prestadores de serviços do grupo, bem como as declarações relativas à atual situação financeira” do grupo.
Os empresários adiantam que “o processo de venda das participações ao World Opportunity Fund Ltd decorreu com respeito de todas as regras de compliance e de boa governança normalmente exigidas nesta tipologia de negócios, tendo, nomeadamente, sido realizado um extenso e transparente processo de due diligence económico financeiro por parte do novo investidor”.
E assim sendo, “com a formalização da venda, a gestão executiva do grupo foi entregue a novos administradores e ao novo investidor, não tendo os signatários qualquer responsabilidade nas decisões executivas, entretanto tomadas pela nova administração”.
Marco Galinha é o presidente do conselho de administração da Global Media mas a presidência executiva, que também ocupava, foi entregue a José Paulo Fafe, gestor indicado pelo fundo, que tem traçado um quadro muito difícil da situação financeira da empresa, falando inclusivamente numa “mais que previsível” falência do grupo. Esta quinta-feira a comissão executiva da Global fez saber que não tem condições de pagar os salários de dezembro nem pode comprometer-se com qualquer data para o fazer.
Acionistas recorrerão “a todos os meios ao seu dispor”
No mesmo comunicado, os quatro acionistas dizem que “não deixarão de recorrer a todos os meios ao seu dispor para exercer os direitos legais e contratuais que lhes assistem e, bem assim, de tudo fazer quanto estiver ao seu alcance para restaurar a credibilidade” do grupo e das suas marcas, “honrando a história do grupo e de todos aqueles que diariamente dão o seu melhor por um jornalismo de excelência”.
Aproveitam também para manifestar solidariedade com os trabalhadores e deixam “expressa a sua firme intenção de defender os interesses da empresa e reverter a inusitada situação a que esta foi conduzida”.
ERC continua à espera de mais informação
Também esta sexta-feira a ERC comunicou que “continua a acompanhar com preocupação a situação do Grupo Global Media e as mais recentes notícias sobre a incerteza quanto às condições de trabalho dos seus profissionais”, adiantando que “a grave perturbação que atinge os órgãos de comunicação social que constituem o grupo, entre os quais se encontram vários meios históricos e de referência, suscita apreensões sérias do regulador ao nível da preservação do pluralismo no sistema mediático nacional”.
O regulador dos media voltou a dizer que “solicitou ao grupo Global Media informação adicional relativamente ao cumprimento das obrigações de transparência da titularidade, de modo a esclarecer dúvidas relativas à propriedade e responsabilidade pelo controlo deste grupo de media, conforme teve oportunidade de transmitir no passado dia 21 de dezembro em audição da Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto da Assembleia da República”. E adiantou que “está a prosseguir todas as medidas que entende serem úteis e adequadas, no exercício estrito das suas competências de regulação e supervisão”.
A tomada de posição da ERC surge depois de o Governo ter reagido à atual situação financeira do grupo, questionando o regulador “sobre as consequências da crise deste grupo de comunicação social para o pluralismo da informação em Portugal, uma vez que tal grupo detém um conjunto de títulos fundamentais para assegurar a diversidade da oferta mediática, quer do ponto de vista da informação de proximidade, quer à escala nacional”.
Governo fala em “empobrecimento do pluralismo informativo”
Em comunicado enviado na quinta-feira à noite, o Ministério da Cultura afirmou que o grupo “deve assegurar o pagamento dos salários devidos, podendo, no limite, desencadear os mecanismos necessários para que o Fundo de Garantia Salarial seja acionado”.
Adiantando que “o não pagamento de salários é uma situação crítica, com consequências dramáticas para os trabalhadores”, o Governo diz que “acompanha com preocupação as notícias sobre a Global Media” e que o “ambiente de instabilidade que hoje se vive nas redações da Global Media corresponde a um empobrecimento do pluralismo informativo, que comporta sérios riscos para a democracia”.
O Governo também manifestou “a maior das perplexidades” pelo facto de, “após a entrada de um novo acionista num grupo económico”, acompanhada de “declarações de investimento no jornalismo”, se tenha passado para “afirmações de sentido contrário”. “Cabia aos investidores estarem informados sobre as circunstâncias financeiras do grupo em que decidiram investir, pelo que não é crível virem agora alegar desconhecimento”, apontou o Ministério da Cultura.