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É oficial: empresa americana de partilha de escritórios WeWork abre falência

A empresa de ‘cowork’ (espaço de trabalho partilhado) norte-americana WeWork não sobreviveu ao peso dos custos de anos de crescimento exponencial e ao lastro da gestão extravagante do seu fundador Adam Neumann

Drew Angerer/Getty Images

É o culminar de anos de despesas sem freio, de péssimas decisões de gestão, de otimismo excessivo, de gastos extravagantes do fundador, e até de escândalos não-financeiros como assédio sexual de trabalhadoras. A WeWork, empresa norte-americana de espaços de ‘cowork’ (partilha de escritórios por várias empresas) apresentou um pedido de proteção contra credores esta terça-feira, 7 de novembro, oficializando uma falência já esperada pelo mercado.

Segundo o Financial Times, o impacto da pandemia da covid-19, que institucionalizou por todo o mundo o trabalho híbrido ou totalmente remoto, fez com que a empresa perdesse grande parte das suas receitas. As despesas, essas, mantinham-se altas, devido aos contratos de arrendamento de grandes espaços de escritórios nas principais cidades globais celebrados antes de 2019, altura em que os preços do imobiliário já estavam em forte alta. A falência irá permitir à empresa libertar-se desses contratos.

Nos seus tempos áureos, a WeWork era uma das ‘startups’ norte-americanas mais promissoras e badaladas, com espaços de escritório em 39 países (incluindo Portugal, com instalações em Lisboa) e com financiadores de peso como o fundo de capital privado japonês SoftBank, que investiu 16 mil milhões de dólares (cerca de 15 mil milhões de euros ao câmbio atual) na empresa.

O co-fundador, Adam Neumann, nascido em Israel, era um dos símbolos da megalomania empreendedora da década de 2010: além da estratégia de crescimento rápido, arrendando espaços ‘premium’ em todo o mundo sem perspetivas realistas de receitas, Neumann não circunscrevia à esfera empresarial a sua perspetiva grandiosa sobre as coisas. Segundo um perfil do Wall Street Journal, ambicionava viver para sempre, abrir escritórios em Marte e ser o primeiro humano a alcançar o estatuto de "trilionário", isto é, a alcançar uma fortuna de um bilião de dólares. Queria também ser presidente do mundo.

O artigo revelava um líder instável e pouco sensato. Andava descalço pelo escritório e era conhecido pelo seu consumo rápido e abundante de bebidas alcoólicas e, acima de tudo, de marijuana. Queria que a We Work fosse um kibbutz capitalista, onde trabalhadores e fundadores viveriam uma experiência laboral comunitária. Uma referência que vinha do seu próprio percurso, tendo passado parte da sua vida num kibbutz perto da faixa de Gaza.

Foi removido da liderança da WeWork em 2019 depois de perdas num só ano 2 mil milhões de dólares (1,9 mil milhões de euros). Soaram os alarmes entre investidores e administradores, dada a limitada capacidade de gerar receitas da empresa, incapazes de sustentar os chorudos contratos de arrendamento assinados pela WeWork ao longo dos anos.

A empresa, antes avaliada em 47 mil milhões de dólares (44 mil milhões de euros), acabaria por ser reavaliada em perto de 12 mil milhões de dólares (11,2 mil milhões de euros) depois da apresentação do prospeto da oferta pública inicial. O SoftBank acabaria por pagar-lhe mil milhões de dólares (931 milhões de euros) para deixar o cargo.