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Soros: "É o fim de uma era"

Em entrevista à revista Bloomberg, o investidor multimilionário diz que a China será o motor da recuperação mundial e põe em causa a doutrina que fundamenta o funcionamento do sistema financeiro

Soros: "É o fim de uma era"

Joaquim Madrinha

Para George Soros, a ciência financeira finanças não é tecnologia de ponta. Não é uma ciência que seja capaz de explicar o que acontece no mundo, à semelhança da física ou da química, nem é capaz de fazer previsões e resultados certeiros e concretos. Esta incapacidade deve-se ao elemento humano que lhe acrescenta a incerteza que a caracteriza devido à ideias preconcebidas dos agentes económicos. Para o investidor que abandonou a Hungria em 1944 para escapar à ocupação nazi, foi na não incorporação desde factor que os economistas falharam ao não prever a crise a que se assiste e o "crash" financeiro que lhe deu origem. "A incerteza é uma espécie de risco não quantificável que foi negligenciado", explica Soros

Esta crise económica é diferente das anteriores ou assemelha-se a algo que já aconteceu antes?

É diferente das anteriores. Nunca se tinha visto uma contracção económica assim tão forte. Em termos históricos tivemos a crise de 1930, a Grande Depressão, mas, desde então, quando aconteceram crises financeiras, as autoridades conseguiram sempre cuidar e estimular a economia através do crédito, de forma a manter as coisas a andar. E, isto, só levou a que a bolha continuasse a crescer. Desta vez, é o fim de uma era. É uma crise diferente de todas a que assistimos em termos históricos.

Estamos a tentar ultrapassar a crise sem dor? Exige-se algum tipo de consolidação?

Sim, temo que sim. Devia-se ter aceite a dor e recapitalizado os bancos em vez de os manter vivos a dar-lhes a oportunidade de reconstruírem os balanços. Isto vai arrastar e pesar na economia durante um longo período de tempo. Não fomos capazes de assumir uma realidade desagradável. Esperamos sempre que os políticos nos enganem, que nos digam que as coisas estão melhores. Esta é a nossa maior fraqueza.

Poderá a China salvar a ecnomia mundial?

A China é uma força positiva na economia mundial. Está numa memlhor situação para lidar com a crise. Lá, vê-se a crise como algo externo, nos Estados Unidos, vê-se a a crise como algo criado internamente. A China pode estimular a economia. Tem reservas. E, se um único estímulo não for suficiente, é um país que têm capacidade para fazer mais. Eles podem estimular as exportações, porque têm um enorme excedente comercial e podem investir. Ou seja, a China tem capacidade para se tornar no motor da recuperação económica substituindo os consumidores norte-americanos. É um apís que está à beira de obter um poder e um reconhecimento económico mundial que muitos países e economistas não reconhecem na actualidade.

É esta a crise que demonstra, de uma vez por todas, que o caminho tomado não é o mais correcto?

Infelizmente, sim. Estamos perante uma demonstração que a teoria da "Hipótese dos mercados eficientes" é falsa. A teoria foi desmontada de forma conclusiva com esta crise, pois ela foi despoletada pelo próprio sistema (os mercados). Segundo a teoria, o normal funcionamento do mercado só é perturbado por factores externos ao seu funcionamento e este pode demorar algum tempo a reajustar-se quando assim acontece. No entanto, a perturbação que deu origem à actual crise foi criada pela polícia dos mercados, pela própria teoria que fundamenta o actual funcionamento do sistema financeiro. Isto é algo que nos obriga a parar para pensar, levando-nos a crer que o actual sistema foi construído sobre falsos princípios.