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Greenspan alerta para um 2010 anémico

O ex-Governador da Reserva Federal norte-americana acredita que o "balão de ar" nos EUA vai esvaziar no próximo ano

Greenspan alerta para um 2010 anémico

Nuno Alexandre Silva

Esteve quase 20 anos à frente da autoridade monetária norte-americana, viu quatro presidentes habitarem a Casa Branca, enfrentou alguns dos piores momentos nos mercados financeiros - em 1987, na década de 1990 e no virar do século com o esvaziar da bolha tecnológica - e agora voltou a aparecer para, também ele, dar a sua opinião sobre a economia mundial e os mercados accionistas. Alan Greenspan, de 83 anos e actual consultor da Greenspan Associates, admitiu numa entrevista à Bloomberg que espera que a economia estado-unidense cresça a ritmos de três a quatro por cento anuais durante os próximos seis meses, mas que esse caminho será curto uma vez que o abrandamento nos mercados bolsistas vai colocar uma "cara aborrecida" na economia em 2010.

O próximo ano é também um ano de previsões difíceis para os analistas ouvidos pela Bloomberg. Se as estimativas apontam para um crescimento de 2,6 por cento nos EUA na segunda metade de 2009, para 2010 as previsões variam entre uma contracção de 0,1 por cento e uma expansão de 4 por cento. Greenspan reforça agora o lado dos cépticos face ao crescimento norte-americano e, por isso, o homem que presidiu à Reserva Federal não vislumbra uma descida da taxa de desemprego que se verificava em Agosto, 9,7 por cento, mas também não acredita num apocalipse de recessão no próximo ano.

Quanto às acções, o antigo homem forte da Fed, indica que apesar das probabilidades serem de estarem a abrandar, "os lucros têm-se comportado muito bem" e a subida de mais de 56 por cento das 500 maiores empresas estado-unidenses desde o "fundo" de nove de Março teve um impacto "muito positivo" na economia que entre Abril e Junho encolheu 0,7 por cento, o melhor registo em mais de um ano, de acordo com o Departamento de Comércio norte-americano.

Ainda assim alerta para o facto de, apesar de "nos próximos seis meses, três ou quatro por cento ser o número certo para o crescimento, o cenário intermédio para a construção e para a construção automóvel não é assim tão bom".

Queda dos preços

Numa altura em que muitos têm alertado para as potenciais consequências hiperinflacionistas das políticas monetárias expansionistas por parte das autoridades centrais, Greenspan elogia o trabalho de Ben Bernanke, seu sucessor na Fed, e vê pouco risco de inflação elevada se houver uma retirada dos estímulos à economia. "Estamos ainda, por qualquer medida, num ambiente de desinflação", disse o homem que assumiu os destinos da Fed entre 1987 e 2006, acrescentando que "a não ser que se esterilize ou desanuvie a grande massa monetária que construímos, a inflação vai começar a crescer em dois ou três anos".

Problemas poderão vir dos governantes políticos que poderão congelar as retiradas dos estímulos económicos e monetários, segundo Greenspan, numa altura em que o congressista republicano Ron Paul lidera uma tentativa de retirar imunidade de auditoria ao banco central estado-unidense.