Desistir é fácil, mas não rende. Muitos investidores sentiram-se tentados a abandonar a bolsa quando a volatilidade aumentou. Quem tivesse seguido a última carteira de Boas & Baratas, formada há um ano, e desistisse no pico da instabilidade, no início de Março, teria registado uma perda superior a 40%, em linha com os índices accionistas europeus. O pânico fala alto, mas é possível controlá-lo. Se tivesse ficado com a dúzia de títulos recomendados no início de Setembro de 2008, teria recuperado uma boa parte da desvalorização que se registava em Março: a última selecção de Boas & Baratas terminou agora o seu reinado com uma perda de 11,70%, vários pontos percentuais melhor do que os índices europeus e norte-americanos.
Apesar da queda, a estratégia Boas & Baratas, que confia apenas nas cotações e nos dados financeiros das empresas para sinalizar os melhores títulos, continua a exibir um ganho de longo prazo invejável: 110,31% desde 29 de Agosto de 2003, ou seja, o portefólio de Boas & Baratas, revisto anualmente no primeiro de Setembro, cresceu a um ritmo anual de 13,16%. Contam-se pelos dedos das mãos os fundos de investimento que conseguiram melhor, a começar pelo BlackRock Latin America, que valorizou mais de 200% nos últimos 6 anos, mesmo depois de subtrair os impostos.
Resistentes à queda
As Boas & Baratas de 2009 conseguiram um desempenho superior aos índices de referência
Acções | Rendibilidade | Comentário |
Boas | ||
KPN | -1,67% | Reviu em baixa as estimativas de receitas de 2009 e 2010 |
Man | -16,02% | Espera queda nas encomendas de camiões em 2010 |
National Bank of Greece | -21,92% | Fez um aumento de capital com sucesso |
Semapa | -5,73% | Credit Suisse vendeu quase 20% do capital |
Baratas | ||
AES | -8,55% | Aumentou a previsão de lucros de 2009 |
Cemig | -8,36% | Andou às compras no Brasil |
EDP Renováveis | -0,72% | Reforçou presença no Brasil e entrou na Roménia |
El Paso | -42,42% | Participou em plano de 1000 quilómetros de gasodutos nas Montanhas Rochosas |
Boas & Baratas | ||
Daimler | -19,56% | Aumentou o capital em 10% por entrada do governo de Abu Dhabi |
Deutsche Lufthansa | -17,47% | Aprovação da compra da Austrian Airlines pela União Europeia esteve difícil |
Mota-Engil | -3,19% | Criou Mota-Engil Angola em parceria com Sonangol |
Petro-Canada* | -1,71% | Saiu de bolsa depois de fusão com Suncor Energy |
Carteira | -11,70% | |
Fonte: Bloomberg, Carteira. Rendibilidade entre 29 de Agosto de 2008 e 31 de Agosto de 2009. Inclui reinvestimento dos dividendos. Não inclui comissões de corretagem. *Até à saída da bolsa |
Originais continuam a bater concorrência
Se os 110,31% da estratégia de referência das Boas & Baratas, cuja carteira muda todos os Setembros, o surpreendem, então saiba que as Boas & Baratas originais, aquelas que foram recomendadas em Setembro de 2003, renderam 150,20% em 6 anos. Apesar da forte desvalorização do último ano, a ArcelorMittal, que acumula um ganho de 565,61%, continua a ser a líder.
É importante perceber que o portefólio original sofreu alterações: depois de sete das sociedades recomendadas terem sido alvo de ofertas públicas de aquisição, a carteira ficou reduzida a nove títulos. A última OPA concretizou-se em Agosto de 2008, quando a norte-americana Staples adquiriu a holandesa Corporate Express, especialista em material de escritório.
A Carteira segue o portefólio inicial das Boas & Baratas porque defende que os investidores devem comprar acções a pensar no longo prazo. É um excelente exemplo do sucesso de um investimento multianual. Contudo, os investidores que queiram começar a seguir a estratégia das Boas & Baratas devem preferir os títulos seleccionados mais recentemente.
Recordistas de ganhos
Depois de 7 ofertas públicas de aquisição, as Boas & Baratas originais estão reduzidas a 9 títulos. Em 6 anos ganharam 150%
Acções | Rendibilidade |
Boas | |
Simco* | 22,10% |
Entenial* | 6,70% |
Kaufman & Broad* | 467,20% |
Novabase | -18,24% |
Hôtelière Lutétia Concorde* | 32,10% |
Neopost | 91,65% |
Baratas | |
KLM* | 52,30% |
ArcelorMittal | 561,62% |
Athlon Holding* | 191,79% |
Corporate Express* | 41,21% |
Sonae SGPS | 221,21% |
Teixeira Duarte | 43,86% |
Boas & Baratas | |
Ahold | 15,86% |
DSM | 53,87% |
Portucel | 82,85% |
Mota-Engil | 181,11% |
Carteira | 150,20% |
Fonte: Bloomberg, Carteira. Rendibilidade entre 29 de Agosto de 2003 e 31 de Agosto de 2009. Inclui reinvestimento dos dividendos e dos resultados das ofertas públicas de aquisição. Não inclui comissões de corretagem. *Rendibilidade até à data da oferta pública de aquisição |
Como fazemos as contas
O cálculo das rendibilidades das carteiras das Boas & Baratas é muito simples: basta que tenha a série de cotações, os valores e as datas dos dividendos distribuídos e, eventualmente, o preço de saída da bolsa, caso alguma empresa seja alvo de uma OPA ou esteja envolvida numa fusão. Vários sítios, como o Yahoo! Finance e o Google Finance, divulgam esta informação, por isso qualquer leitor pode fazer as contas.
Se as companhias não distribuírem os dividendos, a rendibilidade dos títulos é apenas a variação das cotações entre a data de início e a data final (neste ano, entre 29 de Agosto de 2008 e 31 de Agosto de 2009). Porém, caso haja dividendos, considera-se que o montante recebido é aplicado na compra de mais acções da empresa que os pagou. Além disso, se for realizada uma OPA, a receita da operação é aplicada na compra de acções das restantes Boas & Baratas.
A matemática apenas peca por não se considerar os custos da intermediação financeira (as comissões que é preciso pagar para comprar e vender acções, receber dividendos e guardar os títulos) e os impostos. Contudo, para os pequenos investidores, os impostos são pouco relevantes: quem investe a mais de um ano não paga IRS sobre as mais-valias, por isso só tem de se preocupar com os impostos sobre os dividendos.
Agora que já sabe como correu a estratégia Boas & Baratas nos últimos 6 anos, avance para a selecção de 2010. Comece pelas "boas".