A crise nos cartões de crédito provocou perdas de milhões de dólares nos Estados Unidos da América e estendeu-se à Europa. Agora, o Fundo Monetário Internacional (FMI) diz que os bancos podem não conseguir recuperar 7 por cento dos 1,6 mil milhões de euros de dívidas dos consumidores, ou seja, 112 milhões de euros. A maior parte destas dívidas provém do Reino Unido: a organização National Debtline recebeu, só no mês de Maio, 41 mil chamadas de pessoas com receio de não conseguirem pagar as suas dívidas. Só na terra do "Tio Sam", possivelmente provocado pelo flagelo do desemprego, o crédito malparado nos cartões disparou e, agora, 14 por cento das 1,3 mil milhões de dívidas podem não ser recuperadas. De acordo com a Agência Lusa, bancos como o Citigroup, Bank of America, JPMorgan & Chase e Wells Fargo, além do American Express, sofreram até agora perdas de milhares de milhões nas suas carteiras de cartões de crédito.
Por isso, todo o cuidado é pouco no que toca a uma utilização correcta e segura do cartão de plástico. Comprar o que se quer sem ter dinheiro para isso é um factor aliciante para qualquer consumidor. Este Verão, pode até nem ter dinheiro para fazer as férias que deseja, mas o brilho do cartão de plástico chama a sua atenção e parece querer dizer-lhe "utiliza-me". Seja sensato. Há factores que não deve esquecer ao passar o cartão nos terminais de pagamento por multibanco.
O banco Millennium bcp alerta-o para uma utilização segura e cómoda do seu cartão de plástico. Quando receber o seu cartão, assine-o de imediato e guarde-o num local visível da sua carteira. Segundo o banco, desta forma apercebe-se rapidamente da sua falta. "Apresente o cartão devidamente assinado. Ao pagar, confira sempre o valor da transacção antes de digitar o PIN (ou antes de assinar a factura Visa)." As recomendações do Millennium bcp continuam: ao efectuar transacções com o seu cartão, mantenha-o dentro do seu campo de visão, enquanto outros o manuseiam. Assegure-se que só é feita uma factura por parte do estabelecimento comercial ou outro (em caso de engano, destrua imediatamente a errada) e verifique a data da factura e o montante total. "Se, pontualmente, lhe pedirem um documento de identificação, não veja nesse pedido uma falta de confiança ou dúvida sobre a sua idoneidade. É apenas um procedimento de protecção para o comerciante, emissor e, sobretudo, para o utilizador."
Se tem dúvidas quanto às diferenças entre o cartão de débito e o de crédito, a Associação de Instituições de Crédito Especializado, ASFAC, esclarece-o. "Um cartão de crédito é um instrumento que pode ser usado para ‘comprar agora e pagar depois', enquanto que o cartão de débito é apenas usado para ‘comprar agora e pagar agora'. Um cartão de débito está associado à sua conta à ordem e ao dinheiro que nela dispõe. Pelo contrário, um cartão de crédito é um empréstimo não garantido que uma instituição financeira lhe proporciona através de uma facilidade de pagamento. Ao usar um cartão de crédito o utilizador poderá vir a pagar juros, isto depende do momento em que decide fazer o pagamento da totalidade ou parte do empréstimo."
Cuidados a ter
É verdade que com um cartão de crédito pode comprar os bens que necessitar, não tem que transportar dinheiro e pode concentrar o pagamento de todas as suas compras num único momento. Contudo, estes mesmos bens podem sair-lhe mais caros, por causa dos custos associados ao crédito, como as taxas de juro aplicadas e os encargos do financiamento. "Caso se perca o controlo da utilização do cartão, o seu uso pode resultar num aumento dos encargos e eventuais dificuldades financeiras. Poderá cair na tentação e efectuar mais compras compulsivas", diz a ASFAC.
Na verdade, ao utilizar o cartão, excepto se o utilizar no período de crédito grátis, vão-lhe ser cobrados juros. "Investigue e compare diferentes propostas antes de aderir ou aceitar qualquer cartão de crédito. Para escolher o que mais se adequa às suas necessidades e capacidade financeira deverá saber se existe anuidade ou se pagará juros quando pagar a prestações o montante de crédito utilizado nas compras (por exemplo, nos ‘cartões-loja', muitas vezes, não se cobram juros pelo pagamento em prestações e há muitos bancos que oferecem a anuidade do cartão de crédito). Deverá conhecer a taxa de juro aplicável e a duração do período grátis - durante o qual não paga juros pela utilização do cartão", explica Susana Albuquerque, secretária-geral da ASFAC.
Antes de assinar o contrato do seu cartão de crédito, leia-o atentamente para saber qual a taxa de juro que lhe está associada, assim como a forma de cálculo dos juros. O objectivo é que utilize o cartão e saiba exactamente quanto e quando vai pagar. "Não assine nada que não entende totalmente", acrescenta. A ASFAC alerta também os consumidores para que façam sempre a conta pelo facto de pagar a crédito, ou seja, que calculem os juros que vão pagar pela compra a crédito. Assim, sabem exactamente o montante que vão pagar. Outro ponto a que os consumidores devem estar atentos é às penalidades aplicadas pelos bancos em caso de incumprimento.
Mas, a ASFAC também ajuda o consumidor a utilizar o seu cartão de crédito de forma inteligente. "Existe um período, durante o qual, o utilizador pode usar o seu cartão de crédito sem pagar juros por essa utilização. Para usufruir deste período de crédito grátis, o utilizador deve pagar os artigos e serviços de uma única vez, dentro de um dado período de tempo, depois da compra, normalmente um mês após a compra. Aconselhamos a que na altura em que é assinado o contrato, tome nota do funcionamento deste período já que as datas variam de instituição para instituição bancária." A ASFAC ainda aconselha os consumidores, caso não utilizem o período de crédito grátis, a fazerem pagamentos o mais elevados possível, para pagarem o mínimo de juros.
"Informe-se sobre os seguros associados ao seu cartão de crédito. A maioria inclui seguros de doença, acidente, acidente em viagem, imprevistos em viagem, perda, extravio, furto, roubo ou deterioração da bagagem, responsabilidade civil familiar, entre outros. Conheça as condições contratuais em caso de extravio ou roubo, bem como as regras de segurança. Tenha sempre à mão o número de contacto do emitente para contacto imediato, nestes casos.
5 Regras para uma boa utilização
A ASFAC ajuda-o a controlar as suas dívidas. Saiba como.
1. Regra de ouro: avalie sempre a sua capacidade financeira, a parte do seu rendimento mensal disponível para empréstimos. Pode fazê-lo em www.asfac.pt.
2. Regra 20/10: nunca devemos pedir emprestado mais do que 20 por cento dos rendimentos líquidos anuais (para alem do empréstimo à habitação). Os pagamentos mensais dos empréstimos, como o do cartão de crédito, não deverão ser superiores a 10 por cento do rendimento mensal.
3. Fundo de emergência: crie-o para imprevistos ou períodos difíceis. O mínimo necessário é o montante que garanta três meses de "sobrevivência". Por isso, vá juntando algum dinheiro todos os meses.
4. Talões: guarde os comprovativos das compras pagas com cartão de crédito e vá somando o que já gastou. Atenção: com estes cartões perde-se facilmente o controlo. Pergunte-se sempre se precisa mesmo daquele bem ou serviço.
5. Não pague com cartão de crédito um bem que já não existirá quando lhe chegar a conta, como comida, refeições em restaurantes, entre outros.