Contas Públicas

Obrigações do Tesouro custam mais ao Estado do que Certificados de Aforro, aponta a UTAO

“As Obrigações do Tesouro são a opção mais cara para o Estado em cada trimestre dos 10 anos da sua vida”, concluiu uma análise da Unidade Técnica de Apoio Orçamental

Fernando Medina, ministro das Finanças
TIAGO MIRANDA

As Obrigações do Tesouro (OT) a 10 anos custam mais ao Estado do que outras opções, como os Certificados de Aforro, concluiu a Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO).

"As OT são a opção mais cara para o Estado em cada trimestre dos 10 anos da sua vida. O serviço da dívida cresce linearmente ao longo dos 40 trimestres", apontou na UTAO no relatório "Condições dos mercados, dívida pública e dívida externa: junho de 2023".

No início do mês, o Governo aprovou a 'Série F' de Certificados de Aforro (CA), com uma taxa base de 2,5%, que substitui a 'Série E' de certificados.

Em comunicado, o Ministério das Finanças explicou que a nova série permite a aplicação da poupança por um prazo mais longo, de 15 anos, e prevê uma remuneração crescente ao longo do tempo, através de um prémio de permanência.

O limite máximo de subscrição na nova série de CA, a série F, está balizado nos 50.000 euros, mas este acumula com o valor aplicado na série, não podendo exceder os 250 mil euros.

O relatório da UTAO, datado de 23 de junho, revelou ainda que a 'Série F' é a opção de financiamento mais barata "em cada trimestre até meados do 53.º trimestre de vida".

Já no final deste período, o juro acumulado desde o início é de 35,80 euros por cada 100 euros de capital inicial, explicou.

Por sua vez, a 'Série E' dos certificados e as OT atingem um encargo líquido acumulado de, respetivamente, 35,16 euros e 35,9 euros no 40.º trimestre.

"A trajetória dos encargos das duas séries é ligeiramente exponencial por a taxa de juro assumir níveis crescentes ao longo das suas vidas", lê-se no documento.

A UTAO sublinhou ainda que, "sob hipótese de manutenção dos investimentos pelos prazos máximos possíveis", é a 'Série F' a que atribuiu um valor nominal mais elevado (42,15 euros) ao "aforrador de 100 euros iniciais", contra 35,49 euros das OT e 35,16 euros da 'Série E'.

Do ponto de vista da tesouraria do Estado, de acordo com esta unidade técnica, a linha de OT paga o juro simples ao titular no final de cada ano.

Por cada 100 euros de empréstimo ao Estado (momento zero), o titular recebe 3,55 euros de quatro em quatro trimestres, exemplificou, notando que o capital inicial é amortizado integralmente na maturidade (40.º trimestre).

No que se refere aos CA, o capital e os juros são pagos de uma vez no final de cada prazo, ou seja, no trimestre 40.º da 'Série E' e no 60.º da 'Série F'.

Em 21 de junho, o secretário de Estado das Finanças recusou que a redução dos juros dos certificados de aforro se deva a pressões da banca, pois o objetivo foi alinhar a remuneração com a dos mercados, estando a alteração das condições prevista desde abril.

"O dia 02 junho [de suspensão da 'Série E' dos certificados de aforro] está planeado desde meados de abril [...]. A alteração não foi feita por entrevista de A, B ou C, temos planeado desde meados de abril", disse João Nuno Mendes em audição na Comissão de Orçamento e Finanças, logo na primeira resposta aos deputados.

Sobre os bancos também puderem passar a distribuir certificados de aforro, o governante não indicou qual a comissão que será cobrada pela banca, dizendo apenas que o IGCP tem vindo a diversificar os canais de distribuição e que o "Governo preserva a autonomia do IGCP" [Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública].

Em abril deste ano, os cidadãos tinham aplicados 43.000 milhões de euros em instrumentos de poupança do Estado destinados ao retalho (a maioria em certificados de aforro).