Economia

Construtora Mota-Engil abre as portas a reforço da posição dos chineses da CCCC

Acionistas dão autorização à administração para preparar aumento de capital até 100 milhões de euros, previsto no acordo com o grupo chinês

António Mota, presidente da Mota-Engil
Rui Duarte Silva

A construtora Mota-Engil deu mais um passo para que a China Communications Construction Company (CCCC) ganhe poder na empresa. A assembleia-geral de acionistas autorizou a administração a preparar um aumento de capital de 100 milhões de euros, através do qual o grupo chinês ficará com uma “participação ligeiramente superior a 30%”.

Em comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a Mota-Engil informou que, “na assembleia-geral de acionistas realizada hoje [quinta-feira], 7 de janeiro de 2021, foi aprovado por 99,458% dos votos emitidos, o ponto único da agenda, autorizando assim o conselho de administração a deliberar o aumento do capital social até 100 milhões de novas ações de 1 euro e a definir todos os seus termos e características conforme explicitado na proposta”.

Este aumento de capital faz parte do acordo que a Mota Gestão e Participações, o principal acionista do grupo construtor, fez com o CCCC, que visa não só um entendimento em “parceria e investimento” na procura de “oportunidades comerciais”, mas também na aquisição de uma participação “relevante” na Mota-Engil através de um aumento de capital de até 100 milhões de euros.

O grupo chinês já tem acordo para a compra de 55 milhões de ações (ou 23% do capital) por 3,08 euros (um investimento de 169 milhões de euros), mas, com o aumento de capital, passará a ter uma “participação ligeiramente superior a 30%”. Já a Mota Gestão e Participações descerá aos 40%.

Neste aumento de capital poderão ainda participar todos aqueles que são já acionistas da Mota-Engil (a gestora de ativos espanhola Azvalor passou recentemente a ter mais de 2% da empresa) ou aqueles que possam adquirir os direitos de subscrição que serão atribuídos a esses acionistas.

Contudo, esta operação ainda tem de esperar pela verificação de várias condições, como autorizações regulatórias (autoridades da concorrência nos diversos países onde opera) e ainda a confirmação da CMVM de que o grupo chinês não é obrigado a lançar uma oferta pública de aquisição (OPA) sobre o capital da Mota-Engil.

Em entrevista ao Expresso, António Mota, que preside à administração da construtora, disse que, apesar do relevo do grupo chinês, “a Mota-Engil vai continuar a ser aquilo que sempre foi, uma empresa familiar, portuguesa, europeia, com sede em Lisboa”. "Os chineses têm a noção exata de que precisam da cultura portuguesa e do seu bom relacionamento com todos os povos para continuarem a posicionar-se por esse mundo", continuou.

Para já, o ano começou com a Mota-Engil a conseguir um novo contrato de 570 milhões de dólares (382 milhões de euros) no Gana. O objetivo do grupo é chegar ao fim de março com a alteração acionista concluída.