Sem surpresas, as contas consolidadas da CUF no primeiro semestre foram “significativamente impactadas pela redução de atividade nas últimas semanas de março e nos meses de abril e maio”, indica a empresa do universo Mello, que além das 18 unidades de saúde privadas, gere o Hospital Vila Franca de Xira em regime de parceria público-privada (PPP).
De acordo com o comunicado da empresa publicado, esta terça-feira, na página da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a pandemia conduziu a um “desempenho negativo no semestre com um resultado consolidado negativo de 20 milhões de euros”. Antes da chegada do novo coronavírus, nos meses de janeiro e fevereiro, “os proveitos operacionais no segmento dos cuidados de saúde privados apresentaram um crescimento face ao homólogo de 9,6%”.
A CUF (até ao final de junho a denominação da empresa era José de Mello Saúde que passou a adotar a designação da marca) indica ainda que em junho, no que respeita à atividade privada, “registou-se já uma recuperação significativa da atividade assistencial, traduzindo-se em proveitos operacionais 2% acima do período homólogo”.
Nos primeiros seis meses do ano, os proveitos operacionais consolidados do prestador de cuidados de saúde, liderado por Salvador de Mello, atingiram os 229,2 milhões de euros, menos 40,2% face ao período homólogo, enquanto os custos operacionais diminuíram 31,7%.
Note-se que não foi só a pandemia a responsável pela quebra dos proveitos operacionais. Até 31 de agosto de 2019, o Grupo Mello teve a gestão da PPP do Hospital de Braga, que passou para as mãos do Estado. “Desconsiderando a atividade da PPP de Braga, a redução nos proveitos e nos custos operacionais seria de 19,2% e 5,1%, respetivamente, em relação ao período homólogo”, ressalva a empresa na comunicação à CMVM.
Por sua vez, o EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) consolidado atingiu os 8,1 milhões de euros no primeiro semestre, o que se traduz num decréscimo de 86,4%, enquanto a margem EBITDA foi de 3,5%, diminuindo em 12 pontos percentuais face ao período homólogo. A CUF frisa ainda que o EBITDA sofreu um impacto negativo de 900 mil euros com os custos que teve se suportar com equipamentos de proteção individual.
Travagem a fundo na atividade
Recorde-se que, com a pandemia, a atividade programada dos hospitais privados e públicos foi interrompida, limitando-se a serem atendidos os doentes sem hipótese de interrupção dos tratamentos e os casos urgentes. O desafio colocado pelo novo coronavírus implicou uma resposta rápida por parte dos prestadores privados no que toca à preparação das unidades para receberem doentes covid e não covid em segurança, bem como a estarem disponíveis para receberem doentes do Serviço Nacional de Saúde caso este entrasse em colapso (o que não se verificou).
No caso da CUF a estratégia passou por, a partir de 16 de março conter a atividade clínica não essencial em todos os hospitais e clínicas CUF (são 18 unidades no total) para reduzir a circulação de pessoas, ao mesmo tempo que os serviços e os protocolos de atuação foram alterados para acomodar as novas necessidades de segurança de clientes e dos profissionais.
Logo em março, a CUF reforçou as teleconsultas e, depois de ultrapassado o período mais crítico, apelou aos doentes para não adiarem as idas às clínicas e hospitais por medo de serem infetados, num alerta feito em abril. É que o receio da covid-19 retirou das unidades privadas (e públicas) muitos doentes, que permaneceram renitentes em aí se deslocarem mesmo com a retoma da atividade. Apesar da atividade assistencial ter travado a fundo, a CUF faz notar que o número de partos cresceu 13,5%, em relação aos primeiros seis meses de 2019.
Junho traz recuperação
Segundo a empresa, os resultados de junho já mostram a recuperação progressiva da atividade assistencial, que “permitiu iniciar a recuperação” das receitas. “Os proveitos operacionais obtidos foram de 41,1 milhões de euros, situando-se praticamente em linha com o período homólogo”, refere o comunicado, acrescentando que “neste mês, e pela primeira vez desde o início da pandemia”, a CUF registou um EBITDA e um resultado líquido positivos de 4,7 milhões de euros e de 300 mil euros, respetivamente. “Em junho, as receitas operacionais do negócio de saúde privada já foram superiores em 2% face ao período homólogo”, é indicado.
“Estes resultados transmitem um sinal positivo quanto à recuperação dos níveis da atividade que se espera venham a manter-se no segundo semestre de 2020”, considera a empresa de saúde. Além disso, segundo o comunicado, “as equipas clínicas mostraram uma disponibilidade assinalável para recuperar atividade perdida no período de confinamento e responder às necessidades de saúde da população, o que permitiu ultrapassar os níveis de atividade que a CUF tinha inicialmente estimado, quando, em abril 2020, fez a apresentação dos resultados de 2019”.
Nessa altura, o grupo revelou que tinha em cima da mesa vários cenários do impacto da covid-19 no negócio e as previsões indicavam que o volume de negócios pudesse ser afetado negativamente em cerca de 80 milhões de euros, “considerando que o auge da crise ocorra durante o primeiro semestre de 2020, para depois retomar gradualmente no tempo os volumes de atividade anteriormente esperados”.
Fim de um ciclo de 300 milhões de euros de investimento
O comunicado divulgado ao mercado esta terça-feira revela ainda que a dívida financeira bruta consolidada registou um valor de 590,7 milhões de euros no final do primeiro semestre de 2020, mais 56,4 milhões de euros face ao término de 2019, “explicado em grande parte pela utilização dos financiamentos no âmbito da expansão da rede CUF e pelas linhas de financiamento de curto-prazo – reforçadas em 37,5 milhões de euros – de acordo com as necessidades de tesouraria no contexto da pandemia”.
Note-se que os encargos da CUF não subiram apenas nas unidades privadas, os custos da PPP de Vila Franca de Xira com o tratamento de infetados também terão subido, uma questão que, aliás, poderá dar origem ao reequilíbrio financeiro do contrato.
Os Mello destacam que acaba de ser concluído um ciclo de investimentos “muito significativo”, superior a 300 milhões de euros, com a finalização do hospital CUF Sintra e a abertura do hospital CUF Tejo no segundo semestre de 2020, “o qual constitui um dos maiores e mais relevantes projetos dos 75 anos de história da CUF”.