Os juros (yields) da dívida portuguesa de longo prazo já fixaram novos mínimos históricos no mercado secundário, o mercado onde os investidores transacionam as obrigações do Tesouro. A 10 anos estão cada vez mais próximos de zero por cento, tal como em Espanha, e no prazo mais longo da dívida portuguesa já estão abaixo de 1%.
Na quinta-feira, a 10 anos, as taxas chegaram a cair durante a sessão para 0,066%, e a 30 anos - o prazo mais longo das obrigações portuguesas - desceram, pela primeira vez, abaixo de 1%. Esta sexta-feira, as taxas a 10 anos subiram ligeiramente para 0,08% e a 30 anos estão em 0,93%.
No prazo de referência de longo prazo, a 10 anos, as yields registaram na quinta-feira a maior descida diária este ano. A manter-se esta trajetória, Mário Centeno poderá arrecadar novo galardão ao conseguir colocar dívida naquele prazo perto de zero na próxima emissão de obrigações em setembro. Recorde-se que, no último leilão em julho, o Estado pagou 0,51% numa colocação naquele prazo. Alguns analistas admitem inclusive que os juros da dívida a 10 anos de Espanha e Portugal possam cair para terreno negativo nestas próxima semanas.
A dívida portuguesa com taxas negativas aumentou durante a sessão de quinta-feira até 9 anos pela primeira vez. Na abertura desta sexta-feira, os juros abaixo de zero abrangem a dívida até 8 anos, Na semana passada fecharam com taxas negativas até ao prazo de 7 anos.
Efeito Olli Rehn
O movimento global na zona euro de descida das taxas no mercado secundário e de ampliação dos prazos com juros negativos está a dever-se, agora, ao 'efeito Rehn', depois das declarações de Olli Rehn, o atual governador do Banco da Finlândia e um dos candidatos que desistiu da candidatura a diretor-geral do Fundo Monetário Internacional, a favor de "um pacote significativo e com impacto" a ser anunciado pelo Banco Central Europeu (BCE) na próxima reunião a 12 de setembro.
O finlandês, que participa nas reuniões do conselho que toma as decisões de política monetária, falou da reativação do programa de compra de ativos, incluindo a aquisição de ações e a alteração das regras de compra de dívida pública aumentando o atual limite, de modo a que o BCE, e os bancos centrais do sistema do euro, possam aumentar o seu peso como credores oficiais dos estados da moeda única. Rehn vota na próxima reunião a 12 de setembro, tal como Carlos Costa, do Banco de Portugal, e Jens Weidmann, presidente do Bundesbank, o banco central alemão. Não votam nessa reunião os governadores dos bancos centrais de França, Grécia e Irlanda.
O risco da entrada em recessão técnica da economia alemã no trimestre em curso e a situação muito frágil de Itália, que está em estagnação e a braços com uma crise politica, podem contagiar o conjunto da zona euro e provocar um abrandamento ainda maior, empurrando o crescimento para níveis abaixo de 1% (em julho foi de 1,1%). Para evitar esse deslize, o BCE poderá optar por reagir preventivamente com um pacote amplo de estímulos monetários a 12 de setembro, numa das últimas reuniões a que preside Mario Draghi que é substituído por Christine Lagarde a 1 de novembro.