"Tão Forte e Tão Perto" (Extremely Loud and Incredibly), de Stephen Daldry, é um filme sobre uma família atingida pela catástrofe do 11 de setembro. Mais precisamente de um filho, Oskar, extremamente próximo de um pai atencioso, Thomas (vivido por Tom Hanks), com o qual mantinha uma excelente relação de amigo e companheiro nos tipos de jogos em que se envolviam.
Tudo isso se desfez naquela manhã, restando do pai apenas a voz nas gravações de telefone das chamadas feitas antes de ruírem as Torres Gémeas. A morte do pai desestabilizou totalmente o menino-adolescente, que se torna neurótico e apresenta sintomas de autismo.
Porém, ao encontrar por acaso uma chave, que julga ter sido deixada pelo pai, dentro de uma vaso ligado ao nome de família Black, Oskar vai começar uma busca incessante na cidade de Nova Iorque, visitando todos os habitantes com o sobrenome Black. E nisso é ajudado por um velho mudo (Max von Zydow, indicado para o Óscar) desde os bombardeamentos da cidade de Dresden, na Alemanha, onde vivia na II Guerra Mundial. É um filme sobre a perda de um ente querido, que provoca intensa emoção nos espetadores.
Uma grande revelação estava por vir, no encontro com a imprensa, pois o ator Thomas Horn, hoje com 13 anos, surpreendeu todos mostrando-se ainda melhor na realidade do que no cinema. Seguro, respondeu aos jornalistas, fez comentários inteligentes, mostrou ter um bom vocabulário e revelou-se um pequeno génio.
Stephen Daldry tem o dom para filmes com adolescentes, o seu sucesso com Billy Elliot já provara isso. Max von Sydow como ator mudo lembra o filme mudo The Artist e levanta a indagação se virou moda?
Entrevista com Stephen Daldry, o realizador
Como conseguiu trabalhar com o menino-ator, que exige um esforço tão grande?
Não há uma receita particular quando trabalhamos com crianças e com Thomas Horn tivemos uma grande chance, foi uma benção. Ele foi o nosso ator principal, fizemos muitos e muitos ensaios. Não existe nenhum remédio milagre para isso. Trabalhámos com ele como teríamos trabalhado com um ator adulto. Thomas preparou-se muito bem, estava seriamente preparado para o papel, fiquei impressionado com a qualidade dele como ator.
O seu filme é sobre o 11 de setembro, como explicou o que aconteceu nessa data para este menino?
Baseei-me no livro Jonathan Safran Foer, que conta a infelicidade de uma família que perdeu este pai de relação tão chegada ao filho e o livro mostra como essa família se tentou refazer depois da catástrofe. E isso é narrado no filme, utilizando-se a parábola da chav , cuja fechadura ele procura o tempo todo.
Jonathan, no livro, fez uma espécie de ligação entre o bombardeamento de Dresden, na Alemanha, durante a II Guerra Mundial, com o ataque às Torres Gémeas. Para o menino Oskar, foi difícil encontrar um sentido nisso tudo, nesse personagem que ficou mudo durante esse bombardeio mas que procura transmitir seu sentimento.
Onde estava no 11 de setembro?
Estava em Londres com o que seria o produtor deste filme. Estava a trabalhar na pós-produção de um outro filme.
Como foi selecionado Thomas Horn para o filme ?
A primeira coisa a lembrar é que Thomas é diferente do personagem do filme, Oskar. Ele vem de uma família muito equilibrada. Quando fizemos o casting, pudemos logo constatar ser alguém muito inteligente. E também percebemos como se pode projetar nas emoções e sair dessas emoções sem que isso lhe cause dano ou faça mal à sua personalidade.
Entrevista com Thomas Horn
Ator Thomas Horn fala sobre seu papel de menino neurótico e um tanto autista, desesperado pela morte do pai.
"O personagem parece um verdadeiro desafio, é o meu primeiro papel. Não posso fazer comparações posso porém dizer, que houve muitos momentos nos quais não consegui encarnar o personagem. O diretor Stephen explicou-me bem o personagem, como ele age assim, o que pensa, para eu poder entender o papel."
Como foi trabalhar com Max von Sydow, Tom Hanks, Sandra Bullock?
Trabalhar com o senhor von Sydow foi incrível. Todos sabem que se trata de um ator fenomenal mas é também um ser humano muito gentil. Passamos juntos 25 dias.
Eu divert-mei bastante com eles, é genial trabalhar com gente assim. Havia cenas que eram muito fáceis de fazer, mesmo porque ensaiámos bastante. Observei bastante como faziam os atores e procurei imitá-los mas é verdade que, no começo, fiquei bastante intimidado. Imagine eu estava a trabalhar com eles, era um sonho para mim.
Pode-se dizer que tenho um papel privilegiado no filme, mas existe paralelamente outra história, a do avô, que é europeu, que parte, que retorna, cuja sequência fica em suspenso. É também história de uma família e é necessário que a família se refaça. O fim do filme é diferente do final do livro.
Onde estava no 11 de setembro ?
Estava em São Franciso e provavelmente gatinhava no chão porque tinha três anos. Não me lembro, portanto, mas isso é talvez uma boa coisa. Para uma criança, ficar sob o peso desse tipo de tragédia não deve ser bom para o seu desenvolvimento.
Mas ao crescer fui-me informando e ao ir a Nova Iorque conheci pessoas que tinham perdido entes querido e isso cria imediatamente um vínculo sentimental. Felizmente, a maioria das famílias que conheci já conseguiram refazer suas vidas.
Max von Sydow, o avô mudo
É difícil interpretar uma pessoa muda e ter de utilizar o rosto, as mãos para comunicar ?
Não, não vejo diferença, mesmo quando se é mudo. A diferença está no desafio e no interesse que desperta para se fazer o papel. O personagem exprime se pela caneta, escreve e o diálogo faz-se. É um bom desafio.
Existe uma diferença ao trabalhar com um realizador que já fez teatro ou com realizador que sempre fez cinema ?
Não se pode nem comparar- eu venho da cena, eu sou um ator que vem do teatro. Eu amo o teatro e trabalhar com alguém que vem do teatro é fascinante. E Daldry tem experiência com o teatro, portanto trabalhar com ele foi uma felicidade. Eu cheguei mesmo a divertir-me neste filme, sobretudo graças a Daldry e ao menino Horn.
O filme mudo parece voltar à moda, veja-se o caso de "O Artista", mas viver um personagem mudo não o restringiu como artista?
Para mim não houve nenhuma diferença, os seres humanos são os mesmos, falem ou não falem e são todos interessantes. Eu particularmente apreciei este papel por ser para mim algo inédito, nunca vivera este papel e a história, o roteiro e o livro convenceram-me. É bom fazer alguma coisa diferente nunca antes feita, quando se tem de viver mais ou menos o mesmo personagem acaba por cansar um pouco.
Os suecos acham que o ator von Sydow os abandonou por ter sido raptado pela Europa ou EUA. É verdade?
Não, não fui raptado, eu simplesmente decidi fazer a minha carreira em França. Infelizmente, a Suécia tem uma cláusula incrível que nos impede de ter a dupla nacionalidade. Portanto, depois de viver tantos anos em França, eu decidi que teria a nacionalidade francesa. Falei com muitas autoridade, mas todas me confirmaram não se possível a dupla nacionalidade e tive então de escolher.
Ainda sobre a Suécia, sou um exilado profissional e no cinema viajo constantemente, emigro, é assim. Mas a Suécia é para mim um grande país e está no meu coração. Minha formação foi possível graças ao sistema de teatro municipal sueco, que me permitiu tornar ator com uma ótima formação, pois permitiu-me trabalhar seriamente desde criança e ter uma diversidade de papéis, na tragédia, na comédia, no clássico, no teatro de todos os géneros de peças. Não é possível aprender a profissão de ator sem prática e o teatro municipal deu-me essa prática. Faz tempo que um teatro sueco não me oferece essa oportunidade de retornar ao teatro.
Max von Sydow, como foi como pai?
Fui o tipo de pai que todos nós queremos ser e que nem sempre chegamos a ser. Aspiramos a perfeição, mas às vezes é muito difícil a perfeição sobretudo na questão da educação, quando se é ator e se está sempre viajando, portanto não é evidente. Porém, graças a Deus, meus filhos não se queixaram muito.
Onde estava Max von Sydow no dia 11 de setembro?
Eu estava na autoestrada com minha esposa e meu telemóvel tocou. Era uma amiga a dizer-me que eu devia voltar imediatamente a Paris e ir para um lugar seguro porque a guerra tinha começado. E acentuava sobretudo que não andasse de avião e regressasse de carro. E eu perguntei, mas o que estás a dizer-me? Antes de tudo, disse ela, promete-me que não vais apanhar um avião para regressar a Paris, eles estão a atacar os EUA, estão a bombardear Nova Iorque. Fomos ao hotel e ficámos diante da televisão durante aqueles dias. É um dia do qual nunca me poderei esquecer. E acho que cada um de nós aqui presente se lembra desse dia.