Livros

Book 2.0: O presente e o futuro dos livros em debate para “virar a página” no país onde a maioria não lê

Este fim de semana, Lisboa recebe a primeira edição do ‘Book 2.0’, evento da APEL com mais de 50 oradores para pensar como “virar a página” para pôr mais portugueses a ler e perceber como a tecnologia está a transformar um mercado que se quer “digital, inclusivo e sustentável”

Feira do Livro de Lisboa

61% dos portugueses não lê livros. Partindo deste tão comentado número, vindo do inquérito às práticas culturais realizado em 2020 pelo Instituto de Ciências Sociais, a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) quer agora “virar a página”. Assim surge o Book 2.0, descrito como o maior evento de discussão do futuro dos livros em Portugal e na Europa, que acontece esta quinta e sexta-feiras (31 de agosto e 1 de setembro) no Museu Nacional dos Coches, em Lisboa.

O encontro, que está esgotado, conta com a presença de mais de 50 pensadores, influencers, jornalistas, autores e editores nacionais e internacionais e está integrado na Festa do Livro de Belém, iniciativa do Presidente da República para promover obras e autores de língua portuguesa que acontece ali ao lado de 31 de agosto a 3 de setembro.

Sob o mote “The Future of Reading” — “o futuro da leitura”, em português —, o Book 2.0 propõe uma ponte “entre o aqui e o agora dos livros e o futuro que os espera”. O presidente da APEL, Pedro Sobral, explica que, a par da realização da Feira do Livro de Lisboa, editores e livreiros associados sentiam “que era preciso criar um espaço para discutir todas as questões” que rodeiam o mercado editorial português, que se pretende mais “digital, inclusivo e sustentável”.

“Precisávamos de ter discussões muito sérias. Quer o setor da Educação, quer o setor do livro enfrenta desafios muito relevantes que precisamos de falar, de discutir e de conhecer”, disse, em junho, à agência Lusa, dando como exemplo as aplicações da Inteligência Artificial, os índices de leitura e a formação dos mais novos.

Mais de 50 convidados do mundo literário português e internacional

Durante dois dias, são propostos mais de 20 debates e conversas informais com convidados de várias áreas relacionadas com o livro, a leitura e a Educação. Entre os oradores estão o investigador Tim Oates, especialista em Educação; Bart Robers, diretor de audiolivros da empresa Rakuten Kobo; ou, para debater a influência do TikTok nas mudanças que estão a acontecer no mercado a nível global, Yasmina Laraudogoitia, responsável de políticas públicas e relações governamentais do TikTok Espanha e Portugal.

Marcam também presença vários autores nacionais e internacionais, entre eles Juan Gabriel Vasquez, Tânia Ganho, Ana Maria Magalhães, Isabel Alçada, Jeanine Cummins, Gonçalo M. Tavares, Afonso Cruz ou Isabela Figueiredo, entre outros.

Não ficam de fora os leitores e, também, os criadores de conteúdo digital sobre livros, uma das tendências na internet dos últimos anos e que têm alavancando o setor literário também em Portugal. Além de nomes como Helena Magalhães ou Rita da Nova, criadoras de conteúdo digital e também autoras, há espaço para ouvir booktokers (criadores de conteúdo sobre livros no TikTok) sobre a rede social como “suporte para o ‘renascimento’ da indústria editorial”, além de momentos de interação entre oradores e leitores para trocar ideias sobre o setor.

No encontro também estarão presentes o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, os ministros da Educação, João Costa, e da Cultura, Pedro Adão e Silva, a comissária do Plano Nacional de Leitura, Regina Duarte, o presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, António Feijó.

O programa da conferência que engloba todas estas sessões (pode ser consultado na íntegra aqui) está, tal como um livro, dividido em capítulos. O primeiro foca-se no “futuro da edição na era digital” e na forma como as novas tecnologias, das redes sociais aos ereaders, “têm revolucionado a forma como lemos e escrevemos”. O segundo, que vai “da pegada ecológica à diversidade”, questiona: “serão os livros capazes de transformar o nosso mundo em prol dos objetivos de desenvolvimento sustentável?”. A terceira e última parte do programa fala sobre “a educação como um portal para o potencial humano” e a importância da literacia como “passaporte para o mundo”.

Evento apresenta novo estudo sobre leitura e literacia em Portugal

Como base para as conversas e trocas de ideias, o presidente da APEL apresenta, na abertura do primeiro dia do evento, um levantamento, encomendado à GFK, sobre os índices de leitura e literacia em Portugal desde 2004 e até aos dias de hoje.

No final do encontro, Pedro Sobral quer que dali saia um compromisso comum, uma espécie de ‘livro branco’ para o setor, porque “os editores também precisam de ter compromissos claros, no ambiente, na diversidade, na inclusividade”. E exemplifica: “se há uma larga maioria de editores mulheres, temos de questionar por que é que a esmagadora maioria das editoras não tem nos seus órgãos de gestão mulheres. Por que é que não estamos preocupados com as questões ambientais? O que é que está a faltar aqui?”, enumerou em declarações à Lusa.

Com o evento esgotado, a expectativa é positiva para a primeira edição desta conferência. Mas Pedro Sobral tem confiança de que o Book 2.0 venha para ficar. “Se neste primeiro ano vamos ter muito mais editores e livreiros ou pessoas que querem entrar neste mundo, espero que mais para a frente consigamos englobar cada vez mais gente que possa discutir o que vão ser os próximos desafios”.