Pode um romance ser feminista e misógino? Dificilmente. Mas “Os Costumes do País” (1913), de Edith Wharton, tem bastantes traços de feminismo e alguns de misoginia. É verdade que “os costumes” de dois países, França e Estados Unidos, são ambos patriarcais, ainda que com diferenças e especificidades. E é verdade que há uma protagonista, Undine, que combate esse sistema, mesmo que seja uma ambiciosa, uma fútil e uma péssima mãe. Estas contradições fazem com que o livro se afaste dos romances de tese e, ao mesmo tempo, das historietas psicológicas individuais. Se Valéry terá reduzido o género romanesco à inutilidade de frases como “a marquesa saiu às cinco da tarde”, Wharton pergunta: que marquesa? O que é uma marquesa? Como é que ela se tornou marquesa? Porque é que ela saiu às cinco? E saiu para onde?
Exclusivo
Livros: entre o feminista e o misógino, eis a era dourada segundo Wharton
“Os Costumes do País” é um romance que Edith Wharton escreveu em 1913, entre Nova Iorque e Paris