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“Má Sorte no Sexo ou Porno Acidental”. Chega a Portugal o filme-provocação que conquistou Berlim

Da Roménia, com a chancela do Urso de Ouro de Berlim, vem um filme provocador, a agitar as águas. “Má Sorte no Sexo ou Porno Acidental” chega quinta-feira às salas

O primeiro segmento do filme mostra a protagonista a deambular por Bucareste, incluindo uma passagem pelo supermercado. O cineasta transforma-se num cicerone

Aviso à navegação: os primeiros longos minutos de “Má Sorte no Sexo ou Porno Acidental”, o filme romeno (multinacionalmente financiado) de Radu Jude que este ano venceu o Urso de Ouro no Festival de Berlim, são de sexo explícito. Não na toada de quem quer vencer o desespero (como o fellatio de Maruschka Detmers em “O Diabo no Corpo”, de Marco Bellocchio) ou chegar aos limites dos limites (como faziam os amantes de “O Império dos Sentidos”, de Nagisa Oshima), tão-pouco na pura urgência da carne (nos regulares encontros entre um homem e uma mulher que não se conhecem, em “Intimidade”, de Patrice Chéreau) ou na angústia da sua insaciabilidade (“Ninfomaníaca”, de Lars von Trier). Também não há procura de qualquer beleza. Não: a abertura de “Má Sorte no Sexo ou Porno Acidental” é mesmo em modo grosseiro, sem freio, um casal que se filma a fazer e a dizer badalhoquices.

Mais tarde saberemos que a senhora é professora num colégio privado elitista, o companheiro é o marido de bênção firmada pela Igreja Ortodoxa local, o filme foi posto num site porno para adultos e depois, de algum modo, vazou para o espaço público. Resultado: houve alunos que o viram, os progenitores ainda mais, está instalado o escarcéu que se adivinha. Apesar dos limites impostos pela pandemia, os encarregados de educação intimam a promoção de uma reunião com a professora e a diretora da instituição, há que tomar medidas. Isso, todavia, só acontecerá lá para a última parte do filme, entretanto, a tocar muitos e surpreendentes instrumentos narrativos logo após a fanfarra inicial nos ter, no mínimo, agarrado pelos gorgomilos e dado umas bofetadas, a ver se acordamos da nossa letargia.