É talvez o mais célebre filme de Chaplin, aquele que mais depressa entra pelo coração de toda a gente, com a imagem do vagabundo e da criança a firmar a ideia da resistência dos marginalizados pela ternura e pelo amor. Há quem sustente mesmo que é o melhor de toda a sua extensa e genial obra, mas esse é o tipo de afirmação que sempre se medirá com vastas alternativas. É, em particular, o único, em toda a carreira de Chaplin, em que encontra um comparsa masculino à altura, com quem deveras se mede e de quem se faz cúmplice. E, todavia, esse filme ‘perfeito’ foi gerado num tempo de grande perturbação pessoal do autor.
A história começa em 1917, quando Chaplin, num evento social, vê chegar uma rapariga muito bonita pelo braço de um homem mais velho. Era Mildred Harris, uma jovem atriz que andava a fazer cinema em Hollywood desde os 11 anos de idade. Tinha agora 16. Chaplin não lhe presta atenção entre a multitude de convidados, a não ser quando, ao preparar-se para partir, Mildred lhe pergunta se lhe dá uma boleia para casa. Zangara-se com o par daquela noite, que a tinha deixado sozinha, sem meios de retorno. Chaplin acede, fazem conversa de circunstância, ele acha que ela é “uma pobre pateta”, deixa-a à porta de casa e vai para o Athletic Club, onde então residia. Contudo, mal entra no quarto, o telefone toca: era Mildred do outro lado a perguntar-lhe o que estava a fazer e o que ia fazer depois.