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Expresso

Cultura

“Joker”: A génese de um arquivilão

Um originalíssimo filme na galáxia dos super-heróis, “Joker” é também um desassombrado depoimento social e político. Nomeado para 11 Óscares

Jorge Leitão Ramos

No universo da banda desenhada não há personagens mais congenitamente ligados do que Batman e Joker. Concebidos desde a origem, Joker foi o primeiro vilão com quem o justiceiro da máscara de morcego se teve de defrontar. Não era para durar muito, mas acabou por se tornar o exemplar arqui-inimigo de Batman, com o seu rosto deformado em forma de perpétuo esgar, o rosto branco cruzado pelo ricto vermelho da boca rasgada, os cabelos esverdeados - uma espécie de palhaço medonho.

O riso é de ameaça, e os gadgets de raiz carnavalesca (como a flor que esguicha, na lapela) têm sempre variantes de horror (a flor esguicha ácido). Há um lado demencial na criatura que faz dela um ser solitário, um impossível aliado, o supremo narcisista.

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As origens para a deformação física do Joker foram tendo diversas variantes na longa caminhada do personagem pela banda desenhada da DC Comics - a mais comum é a queda num tanque de produtos químicos corrosivos que lhe marcaram o rosto e tintaram para sempre de verde os cabelos. Mas o princípio dos princípios nunca foi cabalmente definido nem pelos seus criadores nem pelos autores que foram tomando conta do personagem. É nesse vazio, nessa ausência, que Todd Phillips mergulha no filme que ganhou o Leão de Ouro no recente Festival de Veneza e vai estrear-se esta semana em Lisboa - e em todo o mundo.

É um gesto arrojado, que tinha bastas condições para correr mal mas que acabou por nos trazer um originalíssimo filme na galáxia dos super-heróis - onde nenhum herói se vislumbra...

Em "Joker" vamos encontrar Arthur Fleck, um homem jovem fortemente medicado, que sofre de uma perturbação mental que lhe torna o riso imperioso e que, por isso, anda com um cartãozinho que estende às pessoas onde explica a sua condição para que ninguém se ofenda. Vive com a mãe doente e dependente, que vai tratando com o carinho que sabe. Tem um lema na vida, tentar fazer os outros felizes, e o sonho de se tornar comediante.

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Diligente, transporta consigo um caderno onde toma notas para ideias de piadas. De dia trabalha como palhaço temporário, seja em festas para miúdos seja andando pela rua com um cartaz, veículo risível de publicidade reles; à noite vai tentando a sua sorte em lugares infetos onde pratica como pode as artes da stand up comedy. Mas não tem sorte nenhuma, não tem graça nenhuma, ninguém se ri. Quando Arthur é agredido, despedido, perseguido, vexado, quando o Governo corta fundos e ele deixa de ter acesso aos medicamentos de que necessita para se manter minimamente equilibrado, quando a mãe o convence de que é filho de um multimilionário que nem quer saber que ele existe, quando percebe que está no lado descartável da espécie humana, Arthur passa para o outro lado. E descobre que matar tipos ricos e abusadores que julgam que nunca nada lhes vai acontecer tem qualquer coisa de justo, pode ser agradável e dá imensa popularidade. O pobre diabo pode tornar-se uma vedeta não por fazer rir os outros mas por fazer acordar, nas desprovidas massas, os mais abomináveis instintos.

A mestria do filme é fazer-nos seguir Arthur, apiedarmo-nos dele, fazendo nossa a sua desdita e, em certa medida, torcer pela sua justiça (pois não fomos 'educados' pelo cinema americano, com Dirty Harry em primeiro plano, a acreditar na punição pelas próprias mãos?) - e, depois, ir forçando a nota, ir carregando no negrume, no desvairo, até que o desatino se torna terrorismo, até que a revolta se torna motim populista e o caos se torna medonho, também para nós que, decerto, só o vemos no conforto da distância. Todavia, em verdade vos digo, as emoções que o filme levanta conseguem plantar-nos no coração da desordem. E do medo.

O caminho entre a crónica social e o inferno é percorrido à sombra da memória de algum cinema de Martin Scorsese. Antes de tudo, de "Taxi Driver"; a rota da emergência de um fascista na vontade de limpar as ruas de Nova Iorque do lixo humano que por lá se espraia é, de algum modo, símile à de Arthur Fleck, a quem, aliás, o realizador faz repetir o gesto de dar um tiro na própria cabeça, evocativo do que De Niro fazia no filme de 1976. Mas também de "O Rei da Comédia", com o patético Rupert Pupkin a ser capaz de tudo para chegar à televisão e vingar na carreira que queria para si. Não pode ser por acaso que Todd Phillips coloque Robert De Niro (que fazia de Pupkin em 1982) na vedeta de televisão que recebe Fleck e o humilha no seu talk-show. O atroz cretino de "O Rei da Comédia" chegou onde queria e está perfeito para o mundo da televisão onde vale tudo por uma boa audiência, mesmo espezinhar um desgraçado em direto. Sim, no fim de "Joker" está formada uma criatura capaz de praticar o mal sem retenção, mas antes disso há uma sociedade que pratica o mal todos os dias e onde os mais fracos não têm saída. Talvez dos simples seja o reino dos céus, mas não é, decerto, Gotham City.

Como criatura desarmada na tragédia da vida, Joaquin Phoenix é intérprete insuperável. Tocado pela nervosidade vizinha da demência, o seu Arthur Fleck tem a fragilidade que consegue que o espectador lhe estenda a mão, mas mantém a aspereza de uma diferença radical que parece poder tornar-se ameaçadora a qualquer momento e impede que o espectador seja seu irmão - e, nunca por nunca, nele se projete. Quando os demónios se apoderam da sua alma, Phoenix torna-se marionético, os seus movimentos menos humanos, o riso casquina-se, operando uma vaga aproximação, de algum modo, à postura que Jack Nicholson definiu no "Batman" de Tim Burton, em 1989, sem, no entanto, dela se apoderar. É curioso, aliás, comparar as várias interpretações do Joker na idade moderna dos filmes.

No filme de Burton, que fundou a primeira nobre adaptação de Batman ao cinema, o Joker é mais um boneco do que um ser humano.Deve muito aos traços da BD, com o chapéu, o casaco roxo vivo, a máscara muito desenhada, os movimentos apalhaçados. É mau, mas é mau dentro de um território convencionado, o melhor dos mundos de Tim Burton, de resto, nunca se confunde com a realidade, é sempre qualquer coisa estilizada, gráfica, conceptual, é sempre uma representação - esse é o seu mérito, a sua singularidade.

O LEGADO DE LEDGER

Pelo seu lado, o Joker de Heath Ledger (em "O Cavaleiro das Trevas", de Christopher Nolan, 2008) está para lá do que é humano, é um ser maléfico, um vampiro, um golem, uma assombração (de que, também, o Batman, nesse filme interpretado por Christian Bale, se aproxima, na rapidez com que aparece e se evapora, na voz cava, na quase sobre-humana resistência física).

Ledger dá ao personagem uma proporção satânica, sentimo-lo capaz de qualquer perversão, de qualquer ato, de violências com qualquer dimensão (quando, no clou do filme, ele faz explodir o hospital central de Gotham, reduzindo-o a escombros, o espectador nem se pergunta como lhe foi possível obter a logística necessária para tão desmesurado cometimento). O trabalho de Phoenix ocupa outro terreno, o do realismo. O seu Joker não habita uma cidade fantástica nem faz coisas de fantasia, é um ser humano onde a vida vai amalgamando rancores e ferocidades. Quando vemos Nicholson ou Ledger, nunca pensamos que nos poderíamos cruzar com eles nas urgências de um hospital ou nos corredores de um centro comercial. Mas, quando vemos Phoenix, aceitamos que ele poderia ir connosco no autocarro, que era provável encontrá-lo no metro. A sua interpretação toca-nos mais do que a genial performance reptilínea de Ledger (que lhe valeu, aliás, um Óscar póstumo). E o filme supera o estatuto de parábola, torna-se um depoimento social e político. Algures, numa cidade negra e suja, há uma sociedade brutal onde o individualismo e o poder do dinheiro criam as bases para todas as ignomínias. Neste filme de Todd Phillips, a violência que mata os pais de Bruce Wayne (o gesto fundacional de Batman) é a mesma que cria o Joker. Eles são irmãos de sangue.

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