Cultura

Festival de Roterdão: boas notícias para o cinema português a abrir 2020

São várias as produções ou coproduções portuguesas presentes no festival holandês, com honras de abertura para “Mosquito”, segunda longa de João Nuno Pinto

Mosquito, de João Nuno Pinto
D.R.

O 49.º Festival de Roterdão (IFFR), que por tradição abre a época dos grandes festivais de cinema internacionais (vai decorrer entre 22 de janeiro e 2 de fevereiro), anunciou esta quarta-feira ventos favoráveis para o cinema português. A começar por “Mosquito”, novo filme de João Nuno Pinto (o autor de “América”), que abre o certame - escolha inédita no que a filmes portugueses diz respeito - e além disso compete no concurso Big Screen. Inspirado numa história verídica da família do realizador, “Mosquito”, ao qual o IFFR se refere como um “filme intoxicante” (e pela sinopse percebe-se porquê), traz a história de um jovem soldado português, Zacarias, que se descobre afetado pela febre da malária na Moçambique de 1917: “um filme de guerra sem guerra sobre um soldado sem exército”, resume o festival.

O filme passa-se na I Guerra Mundial, seguindo as aventuras daquele rapaz que se alista no exército português e é de pronto enviado para África para defender a ex-colónia lusa das tropas alemãs. Acontece que é deixado para trás no acampamento, intoxicado pela malária, entre a realidade e a alucinação. A história é inspirada na vida de um avô de João Nuno Pinto, que lutou pelos portugueses naquele conflito.

O argumento foi escrito pelo realizador, pela sua mulher e também guionista Fernanda Polacow e por Gonçalo Waddington e conta no elenco com João Nunes Monteiro (que interpreta Zacarias), Filipe Duarte, Miguel Moreira, João Lagarto, Sebastian Jehkul, Josefina Massango e também com a participação do fadista Camané. Foi produzido por Paulo Branco através da Leopardo Filmes e da Alfama Filmes, numa coprodução que também envolveu Moçambique e o Brasil. A estreia mundial está marcada para dia 22 no Theater Rotterdam Schouwburg e está previsto que o filme possa ser visto em Portugal a partir de 5 de março.

Mas o cinema português em Roterdão não se fica por aqui. Nos dez eleitos para os Tiger Awards, a competição maior do festival que incide habitualmente em primeiras e segundas obras (Roterdão tem como símbolo o tigre tal como Berlim tem o urso e Veneza o leão), está “Desterro”, da brasileira Maria Clara Escobar, sobre uma jovem mãe que decide romper com laços familiares e afetivos e desaparece. A co-produção envolve o Brasil, a Argentina e também Portugal, pela Terratreme.

Desterro, de Maria Clara Escobar
D.R.

Já na secção competitiva Bright Future, está a nova curta de Sandro Aguilar, um filme de 45 minutos chamado “Armour”, da O Som e a Fúria, que também produziu “Um Animal Amarelo”, longa-metragem do brasileiro Felipe Bragança, escolhida para a competição Big Screen. “Um Animal Amarelo” gira em torno de um cineasta que parte numa jornada pelo Brasil, Portugal e Moçambique em busca de fantasmas do passado colonial e das memórias de seu avô. É uma “fábula melancólica tropical”, diz a sinopse da produtora.

Na competição principal de curtas, há outra coprodução luso-brasileira de um cineasta que não só reside em Lisboa como já filmou em Portugal, Leonardo Mouramateus (autor de “António Um Dois Três”). “A Chuva Acalenta a Dor” é o nome do seu novo trabalho. Mouramateus tem, de resto, mais curtas espalhadas noutras secções, mas sem participação portuguesa.

“Oú en êtes-vous, Teresa Villaverde?”, da realizadora de “Colo” (curta que passa na Voices Short), “Ruby”, de Mariana Gaivão (curta também elegida para a Voices Shorts após a estreia no Festival de Vila do Conde) e o documentário de longa-metragem de Luísa Homem “Suzanne Daveau”, sobre a vida da nonagenária geógrafa franco-portuguesa do título (outra produção da Terratreme revelada no último DocLisboa) integram igualmente o programa de Roterdão que, uma vez mais, prova estar atento ao cinema português. Assinale-se também a estreia em solo holandês de “Vitalina Varela”, de Pedro Costa, no mesmo festival, na secção Deep Focus.