&conomia à 3ª

Certificado digital de confinamento

A evolução da pandemia em Portugal tem sido quase tão extraordinária como a gestão da crise sanitária pelas autoridades de saúde pública, que pode sempre contar com a inestimável ajuda dos políticos para fazer cumprir a melhor estratégia de combate ao vírus: confundi-lo até à exaustão…

O voyeurismo mórbido da comunicação social em dar continuidade à infeliz estratégia de comunicação das autoridades públicas, que contabilizam diariamente mortos, internados e infetados sem compararem com os dados nacionais para os mesmos indicadores de outras doenças e enfermidades, continua a propagar a pandemia do medo.

Ao efeito ioiô dos confinamentos gerais seguem-se agora medidas específicas por região, num país a diferentes velocidades, com a eterna esperança de que surtam algum efeito na propagação da doença, limitando a mobilidade dos infetados. E de todos os outros.

O cerco imaginário à área metropolitana de Lisboa (AML) nos fins de semana, com o não menos imaginário controlo de acessos, vem reforçar o fantasioso efeito das restrições de horário da restauração e a utópico recolher obrigatório nacional. Que afinal não é obrigatório, mas é para cumprir!

O milagre anunciado da imunidade de grupo só seria realizado com a vacinação em massa por que todos ansiavam. A taxa de sucesso da imunização de cada marca de vacinas serviu para definir o pódio das farmacêuticas na prevenção do Armageddon. Tal é a confiança das autoridades europeias nos efeitos da vacinação que foi criado o Certificado Digital da mesma para permitir a livre circulação pela Europa, sendo rapidamente propagandeada a sua adoção pelo governo nacional para permitir a livre circulação interna… mas afinal parece que não.

O recente confinamento do primeiro-ministro, após ter estado em contacto com um infetado e apesar de ter vacinação completa há 1 mês, terá sido imposto pela DGS e lamentavelmente justificado pelo próprio como necessário porque se a vacina protege 97%, restam os outros 3% para confinar… só faltava a Ministra da Saúde vir defender o mesmo em entrevista televisiva, tendo cumprido ontem à noite a sua função de confundir os portugueses com a morte em direto do Certificado Digital interno. Afinal só os outros países europeus reconhecem que os vacinados devem ser tratados de forma diferente dos não vacinados… incluindo os portugueses.

Mas se a vacinação não resolver o tema internamente, talvez na 6.ª vaga alguém se lembre de fiscalizar o cumprimento das regras que impõem, ativamente e não apenas observando, nos ajuntamentos de jovens nas ruas das cidades após cumprimento dos geniais horários da restauração, nos magotes de turistas que se concentram nas esplanadas do Algarve com comportamentos que não teriam no seu país, simplesmente porque aqui podem…

Mas apesar do controlo de grupos específicos em incumprimento ser mais eficaz no controlo da pandemia, tem a grande desvantagem política de requerer mais autoridade e recursos que as proibições gerais e genéricas que ficam sempre melhor na televisão. E assim a culpa é sempre dos portugueses no geral, e de ninguém em particular. Muito menos das autoridades e dos políticos que se fartam de proibir…