&conomia à 3ª

Acreditar no Pai Natal

É infelizmente sem surpresa que chegamos a um novo estado de emergência na companhia da convidada mais indesejada que insiste em estragar a festa há tempo demais. E as autoridades nunca mais chegam para expulsar a pandemia da casa dos portugueses.

A grande surpresa parece afinal ser a impreparação das autoridades políticas e de saúde de planearem antecipadamente a “remota” hipótese de existir uma 2.ª vaga da epidemia. Quem havia de dizer que o milagre português não se havia de repetir?

Nada que a grande capacidade de mobilização de recursos, humanos e financeiros, prometida pelos políticos não possa alegadamente resolver a “inesperada” sobrelotação dos hospitais públicos, dada a “surpreendente” urgência de combater a evolução da pandemia.

A pompa e circunstância do anúncio de grande investimento no SNS em mais camas nos hospitais e mais enfermeiros, apresentado no final de Outubro, pretendiam assustar a pandemia, tentando acalmar os portugueses.

O infalível plano do Governo era, há 2 semanas, abrir um concurso para novos enfermeiros e aumentar em 50 o número de camas disponíveis em UCI para tratar doentes COVID até Dezembro. E mais umas impressionantes 100 camas no 1.º trimestre de 2021. Mas afinal parece que não há enfermeiros disponíveis no mercado... e as camas são claramente insuficientes.

Estas dificuldades de última hora serviram para mostrar aos responsáveis o caminho mais rápido para o milagre original. A proibição de circulação entre concelhos no fim de semana após o Grande Prémio de Fórmula 1 no Algarve aguçou o engenho, pois a necessidade era grande.

Só faltava mesmo a declaração do estado de emergência para tudo acabar bem. Por isso logo veio a promessa de emergência leve e preventiva do Presidente, que rapidamente passou para o recolher obrigatório que ontem se estreou, para atalhar caminho.

A receita do sucesso fácil foi assim reencontrada com a narrativa Natalícia do bem comum, passando as manhãs de Sábado e Domingo a serem alturas de culto e celebração do consumo festivo, vivendo o sonho de sobrevivermos a mais um Natal.

Mas tal como o SNS estava garantidamente bem há 1 mês, para já estar à beira do colapso, também agora a narrativa do Natal justifica o recolher obrigatório para rapidamente evoluir para o confinamento, em que deveremos acabar por celebrar a pandemia em família. Na esperança de que melhores Natais virão...

Pior que a atual gestão de expectativas e da informação, só mesmo o tremendo impacto económico negativo que a má gestão da crise sanitária terá na vida dos portugueses. Voltar a acreditar no Pai Natal parece já não ser a melhor solução...