&conomia à 3ª

Brexit - mais um dia de bluff

Mais uma vez, os inimigos de Theresa May virão hoje em seu auxílio para mais uma votação sobre o Brexit no parlamento britânico. Um acordo para um Brexit com período de transição parece agora mais provável.

As conspirações do partido Trabalhista na oposição, e dos seus inúmeros adversários dentro do seu próprio partido Conservador, contribuíram para fortalecer a Primeira-ministra, cuja principal vantagem é a sua aparente fraqueza.

A inflexão estratégica de Jeremy Corbyn, que passou recentemente a apoiar um segundo referendo ao Brexit que apenas poderá ter lugar daqui a um ano, é improvável que venha a ser materializada. O seu principal objetivo é limitar as opções dos apoiantes de um Brexit sem acordo no partido de May, pois ninguém acredita que Corbyn não apoie o Brexit, e tenha deixado de ser um histórico antieuropeísta com a forte convicção de que a União Europeia (UE) poderá arruinar a sua romântica visão do socialismo britânico.

O país, o partido no poder, o parlamento e o governo estão entusiasticamente divididos acerca da saída da UE. May é assim a líder mais apropriada para o necessário caminho ambíguo e em ziguezague em que se transformou o Brexit. O facto de ser uma apoiante envergonhada da permanência na UE, cujas reais opiniões sobre qualquer tema estão envoltas em mistério, torna-a a figura principal nesta charada de bluff e contra bluff, em que a única certeza é que ninguém controla o resultado final.

A estratégia de May tem sido tentar obter apoios para o resultado possível que não entusiasma ninguém, ameaçando aliados e opositores com as consequências adversas das opções a que estes se opõem veementemente. Tanto os apoiantes do Brexit no partido Conservador como no Trabalhista receiam que um impasse parlamentar e um possível segundo referendo possam impedir a saída da UE.

Por outro lado, a possibilidade do Brexit sem acordo ainda assusta muitos britânicos, pois é evidente a falta de preparação do Reino Unido para esta alternativa. No entanto, este cenário ainda é considerado possível pois existe no Reino Unido, em alguns países europeus e na UE a impressão de que os britânicos são tão aventureiros como parecem, sendo isso passível de ser usado como último recurso na negociação de um acordo melhor.

A improdutividade da sua posição negocial faz de May uma negociadora formidável, pois o medo acerca do Brexit e das suas consequências protegem-na. May tem suportado a desconfiança de todas as partes mas ninguém consegue alterar a sua posição sobre o “acordo possível” que levou a votação.

O comportamento recente dos mercados financeiros tem suportado a valorização da Libra nas últimas semanas, constituindo um sinal bastante mais claro para a gestão política britânica do que as opiniões de alguns comentadores que prevêem o apocalipse britânico.

Toda esta aparente irracionalidade tem sido a melhor arma negocial do Reino Unido, mas hoje deverá ser dado mais um passo em direção à racionalidade. A inevitável racionalidade do “acordo possível”. Por receio de todos os outros.