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Salvador Sobral
Da Eurovisão ao desejo do Grammy (o 8.º nome que pode definir o futuro do país)

Encarou a súbita popularidade com renitência e “necessidade de chocar”, mas diz ter crescido com uma crença desconfiada naquilo que o pai lhe dizia: que é “o melhor cantor do mundo”. Aos 33 anos, Salvador Sobral tem um novo álbum em mãos, acaba de ser pai e não perdeu de vista a vontade de vencer um Grammy no futuro. O músico é um dos 50 nomes escolhidos pelo Expresso, por representarem o futuro do país - a que juntamos 50 que marcaram os últimos 50 anos

Foto Tiago Miranda

2017 foi um ano de mudança para Salvador Sobral. Depois de anos a lutar por reconhecimento na música, conquistou aquilo que, ao longo de várias décadas, muitos tentaram e não conseguiram: levar Portugal à vitória na Eurovisão. Foi, também, o ano em que viveu a situação de saúde mais delicada da sua vida, tendo sido submetido a um bem-sucedido transplante de coração. Seis anos volvidos, acaba de ser pai de Aïda, a sua primeira filha, prepara-se para editar um novo álbum e assume não ter perdido de vista nem a ambição que tem para a sua carreira nem a vontade de ganhar um Grammy. A partir de Paris, numa conversa com o Expresso sob o olhar atento de Aïda, Salvador Sobral fala sobre a música que aí vem, o Portugal que deseja para a filha e os desafios da paternidade. “Quando vou a programas de televisão, digo sempre para não me maquilharem os olhos, porque as olheiras dão credibilidade ao músico. Agora, também acho que as olheiras dão credibilidade ao pai. São sinal de que está presente.”

Quando a música se tornou uma “profissão” perdeu algum encanto?
Eu gostava de dizer que não e romantizar, mas a partir do momento em que entra a indústria e a dependência de um público que te queira ouvir já muda a relação que tens com a música. Há uma pressão que não queria sentir. Queria só fazer a música de que gosto, sem pensar nas pessoas que vão ouvir e nos concertos e não consigo. Estou refém disso, também. Por isso é que digo que o meu pai é o único músico que gosta genuinamente de música. Ele é antiquário, não faz música, mas ama os Beatles e Simon & Garfunkel porque ama e nunca sentiu o mínimo de frustração com a música. Gosta, sem compromisso. A partir do momento em que dependo dela para comer, já não tenho essa relação linda. E toda a gente vai dizer que sim, que tenho uma ótima relação com a música e fico sempre a vibrar quando vou a concertos. Nunca fiquei refém dessa intelectualização da música, desfruto na mesma, mas é verdade que não consigo ter uma relação completamente... como o meu pai.