O frio tem-se feito sentir em Portugal, mas a meio da semana vai apertar ainda mais: uma massa de ar polar continental traz uma descida das temperaturas, que se prolongará até ao final da semana. Em algumas zonas do nordeste transmontano e da Beira Alta, os termómetros poderão baixar até aos oito graus negativos. Saiba mais sobre o que esperar nos próximos dias e os cuidados a ter em conta.
1.
Que mudança ocorre esta semana no estado do tempo?
O estado do tempo em Portugal continental “tem sido influenciado por uma massa de ar polar”, que tem originado temperaturas “ligeiramente inferiores ao normal para a época do ano”, explica o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Mas nesta segunda-feira, essa massa de ar foi “temporariamente substituída” no centro e sul do continente por outra “mais quente”, trazendo nebulosidade e precipitação e uma subida da temperatura mínima na terça-feira, indica o IPMA. A partir do final da tarde de quarta-feira, uma “massa de ar polar continental” irá “gradualmente invadir o norte da Península Ibérica” e depois o sul, provocando uma “nova descida” da temperatura, especialmente da mínima no dia 11.
O climatologista Mário Marques explica ao Expresso que esta “massa de ar frio polar de origem continental”, devido à “presença de um grupo de altas pressões centrado no mar do Norte, entre o Reino Unido e a Escandinávia”, traz frio primeiro para a Europa central, que “já está a ser afetada”, e depois para a Europa ocidental. Em Portugal, o “pico” deverá ocorrer no final da semana.
2.
Que temperaturas estão previstas?
Mário Marques aponta que o “ligeiro aumento da temperatura mínima” nesta terça-feira é “temporário”: os valores vão depois “descer ainda mais, de forma gradual, até sexta-feira”, esperando-se um aumento apenas na tarde de sábado.
Na quinta-feira, estão previstas temperaturas mínimas “entre -5 e 0°C no interior Norte e Centro” e “entre 1 a 5°C no interior Sul e litoral Norte e Centro”, além de “até 8°C no litoral Sul”, de acordo com o IPMA. Para sexta-feira aguarda-se uma “nova descida da temperatura mínima”, de entre dois a quatro graus. Poderão ser atingidos valores até -8°C “em alguns locais do nordeste transmontano e Beira Alta”, assim como “perto de 0°C em vários locais do litoral, em especial do Norte e Centro”. Espera-se a formação de gelo ou geada, particularmente no interior Norte e Centro, com “impacto mais significativo na circulação rodoviária”.
Em ambos os dias, a temperatura máxima deverá variar “entre 4 e 8°C no interior Norte e Centro” e “entre 8 e 14°C no interior Sul e litoral”, devendo ser “inferior a 4°C em alguns locais do nordeste transmontano e Beira Alta, nomeadamente nas terras altas”.
3.
E vai chover?
A ocorrência de precipitação, “em geral fraca”, está prevista para terça e quarta-feira. O IPMA refere que a probabilidade se situa “entre 70 e 100% na generalidade do território” no dia 9, é “inferior a 70% nas regiões Norte e Centro” no dia seguinte e “inferior a 50% na região Sul”. Nesses dias, a precipitação que ocorrer “no extremo norte” será “sob a forma de neve” aproximadamente acima de 600 a 800 metros de altitude e acima de 1400 a 1600 metros nas restantes serras. Depois, a semana é marcada por um “padrão seco e frio”, afirma Mário Marques, acrescentando que a chuva deverá regressar novamente na próxima semana.
4.
Esta situação é normal para a época do ano?
Nos últimos anos, “os invernos têm sido cada vez mais amenos e cada vez mais secos”, mas a atual situação meteorológica é “normal” para a época em que estamos, afirma o climatologista. “E até devia fazer mais frio mais dias consecutivos porque, como diz o adágio popular, janeiro quer-se geadeiro.”
5.
Foram emitidos avisos?
Bragança, Viseu, Guarda e Vila Real estiveram sob aviso amarelo até às 10h desta segunda-feira devido ao tempo frio. O IPMA indica que é “provável” a emissão de um novo aviso para os quatro distritos a partir de quinta-feira.
Foi ainda emitido um aviso amarelo de queda de neve para as “serras do extremo norte, acima de 600/800 metros de altitude” pelo “impacto que poderá ter por acumulação”, entre o final do dia de terça-feira e a madrugada do dia seguinte.
6.
Que cuidados são recomendados?
A Direção-Geral da Saúde (DGS) destaca que a “exposição ao frio intenso”, em especial durante “vários dias consecutivos”, pode “contribuir para a transmissão de doenças infeciosas do aparelho respiratório e provocar lesões relacionadas com o frio”. Por isso, aconselha a que se mantenha o corpo “hidratado e quente” e a casa com temperatura “entre os 18ºC e os 21ºC”.
Os grupos que devem ser alvo de maior atenção devido ao frio são as crianças, os idosos e os doentes crónicos, mas também as grávidas, elenca Bernardo Gomes ao Expresso. Em termos de aquecimento dos espaços, o médico especialista em saúde pública recomenda “cautela com a combustão dentro de casa, que representa um perigo, nomeadamente as lareiras”.
Mas o “problema grave” da “pobreza energética” em Portugal faz com que muitas pessoas tenham “dificuldade efetiva em aquecer a casa” e, neste contexto, “é preciso arranjar alternativas”. “Há pessoas que têm de recorrer a outro tipo de soluções, que passam por se aquecerem a si, mais do que aquecer a casa”, enquadra o vice-presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública. Usar várias camadas de roupa e proteger as extremidades do corpo são alguns exemplos.
A alimentação também é uma questão “relevante”, de forma a “compensar um aumento de necessidades calóricas para manutenção da temperatura”. A DGS sugere refeições mais frequentes, a preferência por sopas e bebidas quentes e que se evite o álcool e os alimentos fritos e açucarados.
7.
Há medidas em cima da mesa?
O presidente da Câmara de Lisboa pronunciou-se durante a manhã sobre a eventual necessidade de ativar o plano de contingência para as pessoas em situação de sem-abrigo devido ao frio, assegurando que os serviços estão prontos a atuar.
“O serviço de Proteção Civil está a acompanhar. Ainda não chegámos aos valores de temperatura em que há um automatismo que começa com o plano de defesa e proteção das pessoas que estão em temperaturas mais baixas”, declarou Carlos Moedas, à margem da inauguração da nova Unidade de Higiene Urbana de Belém. “Se este frio continuar, vamos imediatamente acionar o plano e proteger e acolher as pessoas”, garantiu.
8.
Como evitar a transmissão de infeções respiratórias?
A descida das temperaturas favorece a transmissão de infeções respiratórias, mas há comportamentos que se podem (e devem) adotar como prevenção. “Em momento de atividade epidémica de infeções respiratórias, o uso de máscara é uma ferramenta importante, nomeadamente nos transportes públicos e em unidades de saúde, por exemplo, serviços de urgência”, indica Bernardo Gomes.
Na sexta-feira, a DGS declarou que a utilização de máscara é recomendada “em locais muito frequentados, com aglomerados de pessoas e sobretudo em espaços fechados”, tendo em conta o “aumento do impacto da epidemia de gripe”. “Sempre que tivermos sintomas e estivermos com outras pessoas, a evicção desse contacto ou o uso da máscara podem proteger outros de ficarem infetados”, salienta Bernardo Gomes.
O médico especialista em saúde pública nota ainda que a qualidade do ar e a ventilação é “muito importante”. Existem soluções que “já não são propriamente novas mas que são pouco usadas”, nomeadamente em creches ou lares de idosos, como aparelhos purificadores de ar com filtros HEPA, que fazem a “retirada de agentes patogénicos do ar, sem necessidade de abrir tanto as janelas e promover a entrada de ar frio”. Esta opção implica um investimento, mas pode fazer a diferença no sentido de “mitigar em boa parte o risco de transmissão e reduzir o número de casos”.
9.
Qual o papel da vacinação?
A vacinação contra a gripe e a covid-19 é gratuita para grupos como os maiores de 60 anos, grávidas e profissionais de saúde. Desde o arranque da campanha e até ao final do ano passado, mais de 2,2 milhões de pessoas foram vacinadas contra a gripe e mais de 1,8 milhões receberam o reforço sazonal contra a covid-19, segundo dados da DGS. Nos maiores de 60 anos, a cobertura vacinal contra a gripe não chega aos 63% e a relativa à covid-19 é de 52,77%.
Depois da pandemia e com “uma época de gripe que foi bastante mais fácil no ano passado”, é possível que “as pessoas possam ter subvalorizado a importância da vacinação”, nota Bernardo Gomes, sublinhando que a vacinação é o “eixo primordial”. “Esta época da gripe vai funcionar como motivador de uma maior vacinação para o ano. Às vezes acaba-se por desvalorizar a importância de algumas intervenções preventivas, nomeadamente a vacinação, e depois acontece uma época mais difícil, como esta, que lembra que é importante.”
10.
E a situação nos hospitais?
A pressão tem sido muita nas urgências dos hospitais, com elevados tempos de espera. Mas o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, disse nesta segunda-feira que no fim de semana “as coisas já correram melhor, também porque aparentemente esta gripe sazonal parece estar a acalmar”.
Bernardo Gomes indica que o “pico” estará “teoricamente para breve”, não se sabendo exatamente se será no “final desta semana” ou “no início ou a meio da próxima”. Mas o que faz “muita diferença” nos hospitais é se quem está a ser afetado “são pessoas novas, mais saudáveis, ou se são pessoas mais velhas, mais doentes”. E o problema passa também pelo facto de que muitos hospitais “têm por base, não é de agora, uma carga assistencial muito elevada”. Ou seja, se em tempos ditos normais a situação não é fácil, neste contexto torna-se ainda mais difícil.