"Este número é bem superior ao anterior e para o tempo em que trabalhou a comissão significa que pode ser apenas uma parte do fenómeno e não todo o fenómeno que continua presente na sociedade portuguesa", alertou hoje Marcelo Rebelo de Sousa à margem de mais uma iniciativa de Músicos em Belém. O Presidente recebeu ainda na segunda feira a comissão independente que fez o levantamento de casos de abuso e divulgou uma nota a sublinhar algumas das conclusões.
O Presidente da República considera que o relatório ontem divulgado mostra que os abusos na igreja duraram até hoje. "Não é um fenómeno do passado, não é um fenómeno até os anos 90, é um fenómeno que entrou neste século e continuou até hoje. E isso ultrapassou aquilo que tinha pensado de início e, provavelmente, o que os portugueses pensavam quando se arrancou com a comissão", disse.
Sem querer antecipar as conclusões da Conferência Episcopal agendada para 3 de março, Marcelo lembrou que a perceção da imagem que ficará da Igreja dependerá da sua resposta às denúncias. “Nos países em que a resposta foi mais determinada, mais clara e mais rápida, o efeito foi um. Naqueles em que não foi assim, o efeito foi outro. Era preferível que fosse o primeiro em Portugal”.
Para Marcelo é claro que a “a Igreja tem de repensar a sua atuação”, que tem “um dever ético de responder e se responsabilizar” e que, além do apoio psicológico às vítimas, pode haver lugar a indemnizações. “Vamos esperar.”
Dizendo-se em “total sintonia” com as recomendações da comissão - que propôs a criação de uma comissão ligada ao Estado e em funcionamento com o Ministério Público - Marcelo Rebelo de Sousa lembrou as palavras de Daniel Sampaio. “Disse ontem ter a noção que na sociedade portuguesa existia e, porventura, existe ainda uma ideia de impunidade ou de não denúncia em atividades muito variadas, desportivas de lazer ou ligadas a outras instituições e que é fundamental que essa cultura cívica seja ultrapassada. Por isso, uma comissão ligada ao Estado tem um espaço de manobra maior”, afirmou, antes de defender, como “um passo cultural importante numa sociedade muito fechada”, "tornar natural uma intervenção cívica de controlo, de censura e de denúncia.