“Ao contrário do que julgava, nunca pertenci a alguma parte que não fosse esta e afinal não saí nunca deste lugar”, escreveu José Tolentino Mendonça, autor de extensa obra, multipremiada, para o “Jornal da Madeira”. Poeta, ensaísta, teólogo, arquivista e bibliotecário da Santa Sé, cardeal, nasceu em Machico em 1965. Foi aqui que, em 1419, Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira desembarcaram aquando do descobrimento da ilha da Madeira. Mas reza a lenda que, um século antes, a inglesa Ana d’Arfet, e Robert Machim, cavaleiro da corte do rei Eduardo III de Inglaterra, tinham aqui encontrado refúgio. Terá sido a partir do nome de Machim que Machico foi batizado. Local de desembarque dos primeiros colonizadores da ilha, sobre o Forte de São João Baptista, onde chegou a viver na infância, escreveu Tolentino: “No caminho onde aprendi o outono, sob o azul magoado, os pescadores cruzavam ainda linhas, províncias clareiras, e esse gesto masculino de apagar a dor, chegava pelos percalços da terra, o carro do gelo, e os miúdos tiravam bocados para comer às dentadas, em retrato selvagem, mas, juro-vos, havia encanto, havia qualquer coisa, outra coisa, nesse instante em perda, as mulheres sentavam-se à porta com os bordados, quando passavam estrangeiros, ficavam sempre a sorrir nas suas fotografias”, descrevendo toda uma ilha. Com o poema ‘Caminho do forte’ na memória, parta à descoberta desta fortificação construída no século XVIII inclinada sobre o mar.
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No princípio era a ilha: em Machico com Tolentino
Berço histórico da Madeira, Machico é também local de nascimento de José Tolentino Mendonça. Entre histórias, percorre-se a paisagem de olhos postos na poesia e no mar