Portugal registou, em 2022, o segundo maior consumo do mundo do fármaco zolpidem, utilizado no tratamento da insónia. Como interpreta este dado?
Honestamente, não me surpreende. Em Portugal temos uma cultura em que, tendencialmente, o sono é deixado para último lugar; os nossos dias e rotinas de trabalho começam muito cedo, à semelhança do que acontece nos países nórdicos, mas, contrariamente a estes, trabalhamos até muito tarde. Isto faz com que o nosso ritmo circadiano (que regula, por exemplo, os ritmos de dormir ou de comer, funcionando como uma espécie de relógio biológico do cérebro) fique desregulado, afetando o nosso sono.
Não me parece que o elevado consumo deste fármaco seja um problema de má prática clínica. O que acontece é que praticamente não temos psicólogos ou médicos com formação em terapia cognitivo-comportamental para a insónia - recomendada como tratamento de primeira linha para o tratamento desta doença - e, por isso, acabamos por recorrer a fármacos, que estão mais disponíveis.