Todos os anos, durante a época balnear, milhares de animais são abandonados nas estradas e nas ruas. É um problema recorrente: os donos vão de férias e sentem que não têm onde deixar os animais.
A prática passou em 2014 a ser considerada um crime, punido por lei (Lei n.º 69/2014). Apesar disso, os Centros de Recolha Oficial (CRO), espalhados pelo país inteiro, registaram 41.994 casos de abandono de animais de estimação. O número representa apenas os animais que chegaram aos centros de recolha, já que na realidade os totais acabam por ser superiores.
Quando fez a viagem do Brasil para Portugal, a principal preocupação de Sinnara Silva foram os seus cães. Na altura, eram quatro. Quando ela e o marido se preparavam para a viagem, a prioridade foram os animais. “Planeámos a viagem toda à volta dos animais. Eu e o meu marido tivemos de vir em aviões separados, porque não cabiam os quatro (animais) no avião.”
De cada vez que chega o verão, Sinnara põe os animais em primeiro lugar, planeando as férias à volta deles. “Conhecemos uma senhora que tem um canil maravilhoso em Aveiro e um espaço enorme para eles. Primeiro confirmamos a disponibilidade dela, e depois planeamos as nossas férias para termos onde deixar os animais”, afirma.
Apesar do esforço e dos custos adicionais, garante que vale a pena. “Eles são um membro que entram para a família. Há gente que considera isso um horror, comparar um filho a um animal, mas eu considero-os membros da família.” “Os animais só nos têm a nós, dependem completamente de nós. É um absurdo abandoná-los.”, conclui.
Nora Kiss partilha a mesma opinião. Está com o seu cão, Sid, há nove anos. Foi nesta altura do ano que o encontrou, em Monsanto, e já não consegue imaginar a vida sem ele. “Não sei como alguém o abandonou, mas de uma certa forma foi a minha sorte, porque arranjei um companheiro espetacular”, afirma.
Também neste caso o animal está sempre presente no planeamento das férias, que Nora prefere fazer em Portugal. “Como vivemos na cidade, ter uma casa com jardim no campo é ótimo para nós e para o cão. Hoje é relativamente fácil encontrar alojamento que aceite cães.”
Quando viaja para o estrangeiro, a prioridade é deixar Sid com alguém. Mas ter alguém de confiança é “muito importante”. “Recorremos a petsitting ou a amigos”, diz.
Apesar do petsitting ser uma opção “que tem algum custo”, salienta a importância de fornecer um bom ambiente e espaço para os animais. “Mas a melhor solução é a família toda passar as férias em conjunto, incluindo, claro, os patudos”, diz.
Campanhas de sensibilidade
Nesta altura do ano, são várias as campanhas que surgem com a missão de combater o abandono animal em Portugal. Junto com a BWMEDIA, a associação Animalife criou a campanha “No Verão, Praia Sim, Abandono Não”, com o objetivo de “combater o elevado número de animais abandonados e dar apoio a famílias com dificuldades financeiras que queiram mantê-los”, afirma Rodrigo Livreiro, porta-voz da associação.
Na campanha que esteve a decorrer até hoje, 21 de julho, estiveram em 21 praias. “Achámos que faria todo o sentido a afixação desta campanha nas praias, associando-as ao verão, e mostrando às pessoas que devem ir às praias, sim, mas não devem abandonar os animais nesta altura”, acrescenta Rodrigo.
Pedro Emanuel Paiva, da Provedoria dos Animais de Lisboa, partilha a mesma opinião, afirmando que “estas iniciativas são principalmente um veículo para a não estagnação destas causas.” Com a campanha “Animais e Pessoas, todas as vidas contam”, esperam apelar à questão dos maus-tratos e do abandono de animais. Acrescenta que a sensibilização tem de começar no momento da adoção. “É preciso fazer um processo de adoção responsável. Sensibilizar que isto é, de facto, um processo para toda a vida e que é preciso pensar logo no que irá acontecer no momento das férias.”, diz. Destaca que “estas campanhas, nesta época, são precisamente para sensibilizar as pessoas que abandonar o animal nesta fase é crime”, conclui.
Com a sua campanha “Diga NÃO ao abandono de animais”, a Polícia de Segurança Pública (PSP) relembra que existem várias alternativas para quem não tem possibilidade de levar os animais consigo em férias, como deixá-los em hotéis para cães e gatos, com pessoas que os acolhem temporariamente ou com um familiar ou amigo. Abandoná-los é que não: o abandono de animais é crime, punível com pena de prisão até seis meses, lembra a PSP.
Texto de Catarina Vitória Lopes, editado por Mafalda Ganhão