O sol já só ilumina uma faixa do Santuário e onde Virgínia Rodrigues se senta, a luz acaba de desaparecer. Está sozinha no chão, corpo curvado, quase aninhado, para se aquecer. Na mão, deixa queimar o cigarro que fuma; o casaco fechado até cima, com o capuz puxado por cima da cabeça. Está só. Não era para estar cá, hesitou. “No ano passado vim porque a minha avó estava muito doente. Pedi a Nossa Senhora que lhe tirasse as dores e o sofrimento. A minha avó morreu no dia seguinte. Pedi que parasse de sofrer e parou, mas eu perdia-a.” A indecisão de regressar a Fátima era quase tão grande como a necessidade de procurar respostas. “Ainda assim, acho que tenho que estar aqui por ela também.” Veio. Chegou há poucas horas. Só este sábado irá embora.
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“Agradecer, agradecer, agradecer”: os peregrinos voltaram a Fátima, pedem justiça para vítimas dos abusos e lamentam os erros dos homens
Sem abalos de fé, mas com questões e dúvidas; para pedir e, sobretudo, agradecer. Cerca de 230 mil peregrinos regressaram a Fátima - para lá dos números pré-pandemia. A primeira aparição de Nossa Senhora aos pastorinhos voltou a celebrar-se no Santuário, desta vez com o número dois do Vaticano a presidir as cerimónias, que foram diretas à ferida que recentemente mais deixou marca na igreja: os abusos sexuais de menores