A massa de ar quente e seco vinda do norte de África que durante vários dias atingiu Portugal e outros países do sul da Europa não fez disparar apenas a temperatura do ar. Nas águas, sobretudo no Mediterrâneo mas também no Atlântico, os termómetros atingiram igualmente valores muito acima do normal para a época. Os banhistas agradecem, mas a notícia não é boa. Além de ameaçar a vida marinha, o fenómeno aumenta a probabilidade de ocorrerem fortes tempestades no início do outono, com eventos extremos como inundações e cheias rápidas potencialmente devastadores.
No Mediterrâneo ocidental, a água está cinco graus acima da média, atingindo em algumas zonas temperaturas semelhantes às das Caraíbas. No Mar das Baleares, por exemplo, ultrapassou os 30°C, valores muito raros para a época e que habitualmente só chegam a ser atingidos no final do verão, com a acumulação do calor na água ao longo de toda a estação. “A atual onda de calor ainda não terminou e parece ser muito intensa. Mas só conseguiremos medir com rigor quando terminar”, diz Jean-Baptiste Ledoux, investigador do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) da Universidade do Porto, lembrando que “estes eventos eram raros há 20 anos, mas agora são a regra, com consequências dramáticas para a biodiversidade”.