Sociedade

De norte a sul do país, as urgências encerradas, as que já estiveram fechadas e as que estão em risco de parar

Várias urgências de ginecologia e obstetrícia estiveram encerradas nos últimos dias ou sem receber emergências devido à falta de profissionais de saúde, enquanto outras estão no limite e em risco de fechar. Associações pedem medidas "urgentes" ao Governo para evitar um agravamento da situação

Lynsey Addario/Getty Images

As dificuldades na urgência de obstetrícia do hospital de Portalegre são "recorrentes e graves". Foi este o diagnóstico feito, esta quarta-feira, pelo núcleo de Portalegre do Movimento Democrático de Mulheres, uma associação que defende há várias décadas os direitos das mulheres. A falta de obstetras levou ao encerramento temporário deste serviço. As urgências estão fechadas desde as 5h00 desta quarta-feira e assim vão permanecer até às 8h00 de sexta-feira.

De acordo com o hospital, apenas um obstetra estava disponível para assegurar o serviço no período referido, quando são necessários pelo menos dois. "Não haverá urgência de obstetrícia", referiu um porta-voz do Hospital Dr. José Maria Grande.

Segundo o Movimento Democrático de Mulheres, trata-se de uma "situação recorrente e grave". A associação pediu medidas "urgentes" ao Governo, como mais financiamento e contratação de médicos e enfermeiros especialistas - "sem recurso a empresas subsidiárias" e com "valorização das suas funções e remunerações". Também apelou, em declarações à Lusa, a um reforço das equipas de ginecologia e obstetrícia, chamando a atenção para os "ritmos intensos e muitas horas extra de trabalho" que os profissionais fazem nas unidades hospitalares.

Amadora-Sintra encerra na noite desta quarta-feira

A urgência de obstetrícia do Hospital Fernando da Fonseca, mais conhecido por Amadora-Sintra, vai encerrar a partir das 20h desta quarta-feira e até às 8:00 desta quinta-feira, avançou a SIC, citando fonte oficial que garante que serão prestados “os cuidados necessários aos doentes urgentes/emergentes”. Outra fonte indicou que a causa é a a falta de médicos na escala.

Santa Maria pediu ao INEM para desviar utentes durante 18 horas

Outras urgências de obstetrícia que têm tido dificuldade em dar resposta são as do hospital de Santa Maria, em Lisboa. Segundo o "Jornal de Notícias" desta quarta-feira, o serviço esteve sem receber emergências durante várias horas na noite de terça-feira. De acordo com o diário, foi pedido ao Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) do INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica) que não encaminhasse ambulâncias porque aquelas urgências estavam cheias.

O pedido terá vigorado durante 18 horas, causando constrangimentos no encaminhamento de mulheres da região de Lisboa e Vale do Tejo, zona onde os hospitais têm registado dificuldades para assegurar escalas devido à falta de médicos. O Hospital de Santarém também pediu ao INEM para desviar as ambulâncias no sábado passado, 11 de junho, por se encontrar com uma "equipa reduzida" e ter sido forçado a reorganizar o serviço de urgências. Tratou-se, ressalvou o hospital, de uma "situação normal", uma vez que os "hospitais funcionam em rede" e, em circunstâncias específicas, podem atender doentes de diferentes áreas de residência.

Entre o fim de semana passado e o início desta semana, também as urgências de ginecologia e obstetrícia dos hospitais Beatriz Ângelo, em Loures, Hospital de Braga, São Francisco Xavier, em Lisboa, e Barreiro-Montijo, estiveram encerradas. A interrupção nestes dois últimos serviços deu-se entre 20h00 de segunda-feira e as 8h00 de terça-feira, tendo sido os utentes atendidos noutras unidades de saúde de Lisboa e Vale do Tejo, sublinhou a ARS. Já as urgências de ginecologia do hospital de Braga estiveram encerradas durante 24 horas, devido à "impossibilidade de completar escalas", explicou o próprio hospital.

Urgências do hospital Garcia de Orta em risco por falta de enfermeiros

A falta de profissionais de saúde é também um problema nas urgências do hospital Garcia de Orta, em Almada. De um total de 76 enfermeiros que trabalham no serviço de urgência, 24 têm "limitações várias ao nível do cumprimento integral do horário de trabalho", sublinhou o presidente do Sindicato dos Enfermeiros, Pedro Costa, alertando para um possível agravamento da situação nas urgências.

"Os serviços estão no limite e qualquer imprevisto pode obrigar ao fecho", referiu o dirigente em comunicado enviado na terça-feira às redações. As "lacunas" que existem, afirmou também, "estão a comprometer o atendimento e tratamento dos doentes".

Nas urgências de ginecologia e obstetrícia deste hospital, os problemas já são visíveis. Este serviço esteve encerrado durante várias horas esta semana - entre as 20h00 de terça-feira e as 8h00 de quarta-feira, depois de ter encerrado temporariamente na semana passada por falta de médicos da especialidade. Também há falta de médicos especialistas em ortotraumatologia. O hospital está a "tomar todas as diligências" para reforçar o número de profissionais de saúde, garantiu à Lusa.

Também as urgências gerais do hospital de Vila Franca de Xira estiveram sem receber utentes transportados em ambulâncias no início desta semana e as urgências de ortopedia do hospital da Guarda interromperam temporariamente o seu funcionamento.

Grávida perde bebé por alegada falta de obstetras nas Caldas da Rainha

Foi um incidente com uma grávida no hospital das Caldas da Rainha que primeiro primeiro chamou a atenção para os graves problemas que afetam as urgências de ginecologia e obstetrícia de alguns hospitais no país. Aconteceu na noite de 8 de junho, quando o serviço de obstetrícia daquela unidade estava encerrado por falta de médicos, e terá atrasado o atendimento à mulher grávida, que acabou por perder a criança.

O hospital confirmou que teve constrangimentos no preenchimento da escala médica e que a urgência encerrou temporariamente depois de terem sido definidos circuitos de referenciação alternativos. Foi determinada a abertura de um inquérito e o caso foi participado à Inspeção-Geral das Atividades em Saúde.