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Os últimos dias do recluso nº 221178506: toda a história do fim trágico de João Rendeiro na África do Sul

Na cadeia, João Rendeiro lia biografias sobre Auschwitz, tinha um amigo hacker e nunca recebeu a visita de amigos. Foi encontrado enforcado na cela

A cela 09 estava sempre sobrelotada, com 40 reclusos nos momentos mais desocupados, mas apesar da cacofonia gerada pelas discussões constantes entre os detidos naqueles 80 metros quadrados, João Rendeiro tinha uma rotina que o ajudava a fugir dali: o banqueiro lia biografias. Uma delas marcou-o mais do que as outras, sobre a vida de um jovem judeu preso em Auschwitz durante a II Guerra Mundial que se entregava à memória da sua mulher, que estava grávida e, tal como ele, aprisionada pelos nazis. A mulher acabaria por morrer e o autor, que viria a fundar a escola psicoterapêutica chamada “Logoterapia e Análise Existencial”, narra no livro a sua luta pela sobrevivência naquele campo de concentração. “O Homem em Busca de um Sentido”, de Viktor Frankl, foi levado para a cadeia de Westville, em Durban, pela mão da sua advogada sul-africana, June Marks. “Na prisão, ele não queria ler livros sobre negócios, mas biografias”, histórias de vida, conta Marks. Esta é a história dos últimos dias da vida de Rendeiro, encontrado morto numa cela a 13 de maio em circunstâncias que apontam para o suicídio.

O ex-dono do BPP tinha um número atribuído como qualquer outro recluso. Ali, era o preso nº 221178506 da cela 09 da secção de reclusos estrangeiros, a B5. Logo nas primeiras semanas após a sua detenção no hotel de cinco estrelas Forest Manor Boutique Guesthouse, em Durban — depois de três meses em fuga às autoridades portuguesas —, João Rendeiro queixou-se de que era alvo de chantagem e ameaças de morte por parte de outros reclusos de Westville que tinham ficado a saber pela comunicação social da queda histórica do banqueiro dos ricos. Mas depois da denúncia à ONU, em janeiro, o clima parece ter-se suavizado.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.