Sociedade

Caso da rede de diamantes liderada por ex-comando foi declarado de especial complexidade

O ex-comando Paulo Nazaré é suspeito de liderar um grupo que operava em vários países, como a República Centro-Africana, Angola ou Brasil. Está em prisão preventiva

O caso da rede de tráfico de diamantes e ouro provenientes da República Centro-Africana, que chegavam a Portugal através de voos militares, foi declarado de especial complexidade, revelam duas fontes ligadas ao processo ao Expresso.

A declaração de especial complexidade do processo face, nomeadamente, ao número de arguidos ou ao caráter altamente organizado do crime, tem por consequência o prolongamento dos prazos de prisão preventiva.

O caso tem no total 66 arguidos e o único detido é Paulo Nazaré. Está em prisão preventiva desde novembro.

O Ministério Público considera Nazaré como o “líder da rede criminosa e mediador das operações” ilegais, que envolvem não só o tráfico de diamantes, como de ouro, droga e mercúrio, o branqueamento de capitais, phishing ou o uso de bitcoins em países como Angola, Guiné-Bissau, Dubai, África do Sul, Brasil e Reino Unido.

Durante a única missão que cumpriu na República Centro Africana, entre outubro de 2017 e março de 2018, acabado de concluir o curso 128 dos comandos, alinhou num “esquema tentacular e internacional”, de acordo com fontes policiais.

A investigação da Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC) da Polícia Judiciária e do DIAP de Lisboa não está fechada e incide igualmente sobre militares do Exército no ativo, entre eles um sargento, três capitães e um major. São suspeitos de cumplicidade com Paulo Nazaré. Mas existem também elementos da GNR, da PSP e ainda dois advogados sob suspeita.

"Não vislumbramos um quadro de conspurcação"

O juiz de instrução Carlos Alexandre já recusou a tese da conspiração entre os comandos ou de qualquer outra das forças militares portuguesas integradas na missão internacional da ONU na República Centro-Africana no tráfico de diamantes. “Não vislumbramos um quadro de conspurcação” no seio das tropas portuguesas, salientou o magistrado do Tribunal Central de Instrução Criminal no despacho que determinou as medidas de coação sobre os detidos no âmbito da operação Miríade.

No documento, Carlos Alexandre destacou que alguns elementos integrantes das forças militares de uma missão internacional sob a égide da ONU “manteriam contactos com elementos da comunidade local que se dedicavam a comercialização de diamantes e ouro envolvendo interpretes ao serviço das ditas FND que pela agilização desses procedimentos de entrega de pedras preciosas/ouro entregariam em contrapartida dinheiro e uma comissão ao alegado intérprete surgiu no seio da instituição militar que reportou, imediatamente, a existência de comportamentos não totalmente esclarecidos à hierarquia que os remeteu à Policia Judiciária Militar e esta ao MP”.

O juiz verificou ainda que no decurso da investigação, que ainda não terminou, que “não se tratava de duas ou três situações isolados 'pedaços de vida' de um ou dois militares, que entretanto já haviam regressado a Portugal”, tendo estes suspeitos recorrido “a outros cidadãos até militares, que até inclui oficiais das Forças Armadas Portuguesas, alguns dos mencionados no despacho autorizativos de buscas e agora no despacho de apresentação, foram até constituídos arguidos não sendo detidos, mas convidados a deslocar-se à Polícia Judiciária, onde foram interrogados”.