“Nunca tivemos tanta informação e tanto conhecimento como agora para enfrentar períodos de seca no nosso país”, afirmou o presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, Nuno Lacasta, na tarde desta quinta-feira, numa conferência organizada pela Ordem dos Engenheiros, em Lisboa.
Recorda que a decisão de suspender a produção hidroelétrica em algumas barragens foi acertada, mas que ainda há muito para fazer. Nuno Lacasta, sublinha, aliás, que Portugal está “constantemente em défice hídrico” e que “tivemos quatro secas na última década, quando dantes elas aconteciam mais ou menos de 10 em 10 anos”.
Por isso mesmo, e segundo este responsável, “não pode haver tabus para analisar todas as alternativas possíveis [para fazer frente à escassez içarica]”: dessalinização da água do mar, reutilização de águas residuais, construção de interligações entre bacias e eventualmente novas barragens.
Só se fala de seca “quando há seca”
O problema, segundo Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), é que, “mais uma vez, só nos lembramos de discutir a seca, quando há seca, e não deveria ser assim. Esta é uma questão muito séria e devia ser discutida precisamente antes de a seca nos afrontar”.
O líder da CAP, presente na mesma conferência, lembrou que sempre que se fala de seca se aponta o dedo aos agricultores, “ou porque não sabem gerir a água, ou porque a desperdiçam, ou ainda porque gastam demais”. Mas, frisa, “quem normalmente faz essas críticas são todos menos os agrónomos – nomeadamente os ambientalistas, os arquitectos, os engenheiros civis e até os biólogos, entre outros que nada têm a ver com a agricultura”.
Em suma, “convém saber do que estamos a falar”, disse Oliveira e Sousa para acrescentar que, “chega deste tipo de posicionamento e, se calhar, está na altura de nos sentarmos todos à volta da mesa para discutirmos os assunto de forma séria”.
“Não vai faltar água aos portugueses”
Na verdade, “precisamos é de mais ‘Alquevas’, senão caminharemos para a desertificação do território. Só falta uma coisa: decisão política”, remata o presidente da CAP.
Apesar da apreensão face ao clima de seca que grassa em todo o país, o presidente da APA garante que “não vai faltar água aos portugueses. Há reservas de água para dois anos, isso está garantido. Mas, obviamente, temos de continuar vigilantes”.