É o primeiro grupo resgatado do Afeganistão a chegar a Portugal: são 24, colaboraram com a missão portuguesa e trazem crianças. Aterraram em Figo Maduro, Lisboa, pelas 21h18 desta sexta-feira e para este sábado está prevista a chegada de mais dois outros grupos - serão 36 a 38 pessoas no total, segundo avançou esta sexta-feira o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho.
Minutos após a aterragem, o grupo de afegãos - todos eles intérpretes e tradutores, que chegaram acompanhados pelas famílias - foi encaminhado para um autocarro que o levou para fora da pista, deixando-o numa zona protegida e longe dos jornalistas para proceder à identificação e organização da chegada. As pessoas que chegam nas próximas horas são também intérpretes e tradutores que trabalharam com as forças portuguesas.
Ao mesmo tempo que os civis desciam do avião, saíam também do C130 (que voou de Madrid para Lisboa) os quatro militares portugueses que levaram a cabo a missão no aeroporto de Cabul. Os quatro foram recebidos pelo Presidente da República e pelo ministro da Defesa.
Tanto Marcelo Rebelo de Sousa como Gomes Cravinho sublinharam que Portugal honrou o seu dever de gratidão para com estas pessoas que ajudaram a missão portuguesa no Afeganistão.
“É um dever de princípio moral”, defendeu Marcelo. “Mereciam que estivéssemos com eles e elas na situação mais difícil das suas vidas, que é o drama a que se assiste com o povo afegão. É o pagar de uma dívida de gratidão”, continuou, repetindo o que Gomes Cravinho já tinha dito: esta foi uma missão também de agradecimento. “Fomos a Cabul honrar a dívida de gratidão que os militares portugueses tinham para com estes afegãos”, disse o ministro da Defesa, lembrando que muitas pessoas “muitas vezes arriscaram a vida”. O major Marco Silva, responsável pela força destacada para o aeroporto de Cabul, deixou a garantia de que fizeram “tudo o que estava ao alcance” dos militares portugueses.
Quer o Presidente quer o ministro da Defesa consideraram a missão bem-sucedida. Questionado por um jornalista - sem qualquer aviso prévio, as perguntas na conferência de imprensa foram limitadas apenas a dois jornalistas, apesar de vários se encontrarem no local e a quem não foi permitido fazer mais questões - sobre as informações de que há pessoas que tiveram autorização para embarcar e vir para Portugal mas que não chegaram ao aeroporto - como o caso das duas jovens afegãs que o Expresso noticiou esta quinta-feira -, Gomes Cravinho disse não ter conhecimento “sobre nenhum pessoa que esteja ainda no Afeganistão e que queira sair do país”, referindo-se apenas aos casos de 166 afegãos que colaboraram diretamente com Portugal.
Ora, as duas afegãs não fazem parte desse núcleo de pessoas que trabalhou com as forças portuguesas no Afeganistão mas são parte das pessoas que já manifestaram vontade de vir para Portugal. De acordo com dois empresários que lhes prometeram um contrato de trabalho, ambas receberam o aviso para se dirigirem ao aeroporto de Cabul na passada quinta-feira de manhã com o intuito de serem retiradas do país. No entanto, nenhuma delas conseguiu chegar à zona onde se encontravam os militares portugueses. As duas continuam em Cabul.
Além das pessoas que trabalharam com Portugal e que colaboraram com a NATO e União Europeia, o Governo disse estar a processar os pedidos de acolhimento dirigidos especificamente ao nosso país.
O Governo português, através do ministro dos Negócios Estrangeiros, já afirmou anteriormente que há disponibilidade do país para receber “muitos mais afegãos”.
Os quatro militares portugueses e os 24 afegãos - que fazem parte da lista de 116 colaboradores provenientes do Afeganistão que colaboram com os portugueses - saíram do Afeganistão em direção ao Dubai, seguiram depois para Espanha e já de noite chegaram a Lisboa. O governo espanhol acolheu um grupo, à semelhança de Portugal.
Os talibãs conquistaram Cabul a 15 de agosto depois de uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e da NATO.