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Após arraial britânico, não há milagre para Santos da casa. Especialistas pedem “coerência” e condenam “São João permitido aos ingleses”

Um Santo António sem arraiais, um São João sem fogo-de-artifício nem concertos e um São Pedro em que as rusgas só passam na televisão. Este será o cenário vivido em Lisboa, Porto e Póvoa de Varzim. O imunologista Luís Delgado, em declarações ao Expresso, lamenta que “um São João tenha sido permitido aos ingleses que vieram para o Porto beber e partir tudo” e que agora não se possa “permitir uma festa aos portugueses”. O epidemiologista Ricardo Mexia afirma que é preciso “tomar decisões claras”, para que “as regras se apliquem de forma universal”, caso contrário “as pessoas têm dificuldade em compreender e cumprir”

Octavio Passos

Depois do arraial e da folia permitida aos milhares de adeptos ingleses que atracaram em festa no Porto, onde se realizou a Final da Liga dos Campeões, uma dúvida começou a marchar entre os portugueses: como serão os Santos Populares após a Invicta ter sido conquistada pelas celebrações massivas dos britânicos? Durante uma visita oficial à Eslovénia, Marcelo Rebelo Sousa não quis “comentar questões de Portugal”, mas ainda perguntou se naquele país haveria Santos Populares. “Disseram-me: ‘Não, não temos’”, contou o Presidente da República, chutando a decisão para o Governo e para Direção-Geral da Saúde. Graça Freitas respondeu apenas que se pode “festejar sem incumprir regras”, o que fez com que a palavra final fosse ditada pelas autarquias.

Em Lisboa, a Câmara Municipal não vai autorizar a realização de arraiais populares durante o Santo António, no Porto podem guardar os foguetes porque não haverá fogo-de-artifício nem concertos nos Aliados na noite de São João, enquanto na Póvoa de Varzim não haverá nada e as tradicionais rusgas de São Pedro só poderão ser vistas através da televisão.

“Infelizmente, este ano não vamos poder ter arraiais, não vamos poder ter as comemorações do Santo António com arraiais, dada a situação que vivemos”, anunciou esta terça-feira Fernando Medina, para quem esta “é a decisão sensata e avisada nesta fase da pandemia em que são precisos ainda cuidados”. Da parte dos comerciantes, embora os Santos pudessem “beneficiar” o sector, há compreensão. “Em termos comerciais, eu direi: ‘sim, faça-se’. Mas em termos de responsabilidade sobre a saúde, eu direi: faremos aquilo que formos autorizados a fazer”, assegura Manuel Lopes, presidente da Associação de Dinamização da Baixa Pombalina. “Estas festas com álcool no meio da rua, penso que, neste momento, em que tudo anda com máscaras, tornam-se descabidas”, considera o responsável, para quem o cenário que se viveu este fim de semana no Porto não tem “qualquer nexo”. Ainda assim, Manuel Lopes, acusa o Governo de ser o “coveiro” do negócio.