Ensino

Mais interação entre colegas, mas também mais agressividade: estudo revela efeitos da restrição do uso de telemóveis nas escolas

Segundo o estudo, 17% dos adolescentes apresentam sinais de dependência significativa do ‘smartphone’

JOSÉ COELHO/LUSA

A proibição do uso de telemóveis em contexto escolar está a gerar dois efeitos distintos no dia a dia dos alunos. Por um lado, há um aumento da interação entre colegas; por outro, registam-se mais comportamentos agressivos. Estas são algumas das principais conclusões de um estudo apresentado no II CIRPIE – Colóquio Internacional de Reflexão sobre Práticas Integradas em Educação, que analisou o impacto da medida recomendada pelo Ministério da Educação nas dinâmicas escolares e no bem-estar emocional dos jovens.

A investigação foi conduzida por Ivone Patrão, Giovanna Pires Giannetti e Maria João Gouveia, do ISPA, em colaboração com Telma Anacleto, do Agrupamento de Escolas de São Gonçalo. Foram recolhidos dados junto de 875 alunos e 448 membros da comunidade educativa. Uma das conclusões mais relevantes mostra uma ligação direta entre o uso excessivo do telemóvel e níveis mais baixos de autocontrolo e de equilíbrio emocional. Em contraste, os jovens que demonstram mais empatia e maior capacidade de se autorregular apresentam comportamentos mais positivos e estáveis.

“Estes dados são fundamentais para perceber a importância do treino de competências socioemocionais, como a empatia e o autocontrolo, que permitem aos adolescentes gerir os conflitos e integrar-se de forma mais saudável no grupo de pares”, explica Ivone Patrão, psicóloga clínica e investigadora.

Entre os benefícios mais apontados pelos participantes, 47% referem um aumento da interação entre colegas, enquanto 30% têm maior envolvimento em atividades ao ar livre. Do lado negativo, 41% notaram um crescimento nos comportamentos agressivos, 38% referem dificuldades de comunicação entre os alunos e 21% destacam a limitação do uso pedagógico dos dispositivos móveis.

Ainda assim, a maioria (74,6% dos participantes) apoia a continuidade da medida no próximo ano letivo. Entre os que se mostram contra, alguns são pais que defendem a importância de manter contacto com os filhos durante o horário escolar.

Ainda de acordo com o estudo, 17% dos adolescentes apresentam sinais de dependência significativa do smartphone. Esta dependência está associada a menor autocontrolo e a uma procura constante de prazer imediato, em detrimento de objetivos com significado mais duradouro.

O estudo revela também que existe uma relação positiva entre empatia cognitiva e bem-estar emocional, assim como entre empatia afetiva e capacidade de adaptação emocional. Estas competências são vistas como fatores de proteção contra atitudes antissociais.

“A proibição, por si só, não é suficiente”, sublinha Ivone Patrão. “Medidas de regulação externa, como esta, devem ser acompanhadas de uma avaliação contínua da sua eficácia e de uma reflexão sobre como integrar, de forma equilibrada, a tecnologia no contexto educativo.”