Sociedade

Patrões dizem que não vão “suportar” aumentos salariais dos motoristas e pedem reunião ao Governo

Camionistas já estão de regresso, depois de vários dias retidos na fronteira entre Reino Unido e França. Antram diz que prejuízos financeiros, a somar aos aumentos salariais previstos para 2021, tornam a situação "incomportável"

A polícia patrulha o trilho de camiões, para lá e para cá, de forma a que todos os camionistas que têm de dormir aqui se sintam mais seguros
JUSTIN TALLIS/Getty Images

Os motoristas portugueses que ficaram retidos na fronteira entre o Reino Unido e França durante o Natal já estão de regresso. Embora essa parte do problema esteja ultrapassada, os prejuízos financeiros que esta paragem provocou, a somar aos aumentos salariais dos motoristas que estão previstos para janeiro, estão a preocupar os patrões, que se preparam para pedir uma reunião ao Governo.

O impasse começou quando França decidiu ordenar o encerramento da fronteira com o Reino Unido, na noite de domingo passado, depois de ter sido descoberta uma nova estirpe do coronavírus em Inglaterra. Isto levou a que milhares de camionistas, incluindo cerca de 300 portugueses, ficassem retidos e fossem obrigados a passar as noites no interior dos seus camiões. Neste momento, na tarde a seguir ao dia de Natal, “a situação já está regularizada”, garante ao Expresso o porta-voz da Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (Antram), André Matias de Almeida. “Não temos nota de que ainda haja motoristas retidos; os que ainda não voltaram estão em trânsito”.

Ainda assim, a paragem de vários dias terá provocado prejuízos graves. A Antram falava, no dia 23 de dezembro, à agência Lusa de um impacto de mais de três milhões de euros em perdas diretas. Agora, ao Expresso, André Matias de Almeida recorda que aos “prejuízos económicos” que as empresas sofreram nestes dias “soma-se uma enorme carga salarial em janeiro deste ano, com o Orçamento do Estado e a indexação ao salário mínimo nacional”.

Ou seja, depois de duas greves com grande impacto em 2019, em que o Governo interveio diretamente como intermediário, as negociações a que os patrões e sindicatos de motoristas ditaram um aumento de 11,1% na tabela salarial dos motoristas de pesados, entre outras mudanças feitas ao contrato coletivo de trabalho vertical. As exigências dos sindicatos passavam também pela indexação dos salários ao valor do salário mínimo nacional, que em janeiro aumentará 30 euros (de 635 parta 665 euros).

Ora os patrões dos motoristas queixam-se agora de que esta carga salarial, somada aos prejuízos que tiveram nestes dias, será ainda mais difícil de executar. “Este será um aumento que estas empresas não poderão suportar e não suportarão”, avisa André Matias de Almeida.

Reconhecendo que o Governo “pouco podia fazer” face à situação da fronteira, que colocou os motoristas “em condições desumanas” e impossibilitados de passar o Natal com as famílias, o porta-voz coloca agora um novo desafio ao Executivo. “A Antram vai pedir uma reunião ao Governo sobre esta situação e sobre o aumento dos salários indexado ao salário mínimo, porque é incomportável”, assegura.

Durante os dias em que os motoristas portugueses estiveram retidos, o Governo esteve presente no Canal da Mancha, onde colocou uma equipa de quatro pessoas para distribuir água e comida pelos camionistas. Agora, poderá avizinhar-se um novo confronto, desta vez com os patrões.