O fumo das sardinhadas, a explosão de cores do fogo-de-artifício, as marteladas marotas que escolhem as cabeças mais bonitas, o alho-porro, os bailaricos saracoteados com rimas picantes de música popular, os versos dos manjericos, os balões que sobem nos céus, os arraiais, o cheiro a farturas que exala das roulotes e mais uma voltinha, mais uma rodada nos carrosséis ficaram este ano confinados. Tal como as pessoas. “Para mim, não há São João”. Quem o diz, ao Expresso, é António Costa. Não se trata do primeiro-ministro, mas de um morador das Fontainhas, uma das zonas da cidade onde a festa costuma ser mais agitada. “Se não fosse o maldito bicho, a festa ia ser rija. Mas, assim, o melhor é não nos armarmos em heróis”, resigna-se o portuense de 45 anos. É o proprietário do snack-bar "La Fontaine", forçado a recusar uns finos aos clientes que chegavam às 19h00, quando já fechava as portas, seguindo as medidas estabelecidas pelo município para esta atípica data sanjoanina.
O único momento de alegria é esboçado quando um amigo lhe diz: “Tó, o Benfica tá a perder”. Fora isso, o entusiasmo é só fumaça. E não é dos dez quilos de sardinha assada que vendeu. “No ano passado vendemos 50 quilos de bifanas”, conta a mulher, Ermelinda Santos, que “a esta hora já estaria farta de pedalar”. Assim seria até às duas da manhã, se a pandemia não tivesse obrigado os foliões a ficarem em casa.