Sociedade

Professores, uma classe exausta a desejar a reforma antecipada

As conclusões de um inquérito a 16 mil docentes mostram um grupo profissional com elevadíssimos níveis de exaustão emocional, stresse e bastante preocupado com a indisciplina nas escolas

LUSA

As primeiras conclusões - que davam conta de uma classe profissional em “exaustão emocional” (metade com níveis no mínimo “preocupantes” e um quarto com sinais “críticos” ou “muito definidos”) e pouco realizada profissionalmente (mais de 40%) – foram divulgadas em julho. Esta sexta-feira fica a conhecer-se o retrato mais completo a partir de um inquérito nacional junto de 16 mil professores de todos os níveis de ensino e do sector público e privado.

O estudo sobre o desgaste na profissão docente foi pedido pela Fenprof à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas e levado a cabo por uma equipa de investigadores coordenada pela historiadora Raquel Varela, da Universidade Nova de Lisboa. Entre os dados agora divulgados constata-se, por exemplo, que 84% dos docentes reformava-se antecipadamente se não houvesse penalização. E que quase dois em cada três (62%) estão preocupados ou extremamente preocupados com a indisciplina. Quanto à burocracia associada ao seu trabalho, o diagnóstico é comum a quase todos, considerando-a como um fator “negativo” ou “extremamente negativo”. Por tudo isto não se estranha que 57% dos professores dizem sofrer de “stresse laboral elevado”.

O inquérito nacional sobre as condições de vida e trabalho na educação em Portugal era composto por 158 questões. Uma delas incidia sobre o consumo de medicamentos, drogas e álcool. Não sendo um problema para a grande maioria dos docentes, houve 15% que admitiram estar preocupados com o consumo de medicamentos que faziam. Cerca de 3% “apresentam consumos autopercebidos como preocupantes de drogas e outro tanto de álcool”.

Os motivos da exaustão

Quanto aos motivos que estão associados a índices de exaustão emocionais muito elevados identificaram-se fatores como a preocupação com a indisciplina, o nível salarial ou ainda o tipo de escola. “Nas escolas públicas os professores exibem um muito maior nível de exaustão emocional do que nas privadas incluídas na amostra”, lê-se no estudo que está a ser apresentado esta sexta-feira, em Lisboa, no II Encontro Internacional sobre o Desgaste na Profissão Docente.

Mas é a idade que acaba por ser determinante no desgaste dos professores e que se agrava a partir dos 55 anos. A situação é tanto mais preocupante quanto é sabido que o envelhecimento da classe docente tem-se acentuado de forma muito rápida.

Entre os 16 mil professores que responderam ao inquérito – de fevereiro a abril - a idade média é de 49,5 anos, com um tempo médio de serviço de 24,5 anos. Praticamente 14% - o equivalente a 18 mil professores extrapolando para o universo de professores - dão aulas longe das suas famílias.