Nuno Teotónio Pereira nasceu em Lisboa a 30 de janeiro de 1922. Na Escola de Belas-Artes da capital, formou-se em Arquitetura, em 1949, com distinção: 18 valores. Nessa altura, já tinha a experiência do trabalho prático, pois fora colaborador no ateliê do arquiteto Carlos Ramos entre 1940 e 1943, e já pensava a arquitetura enquanto política habitacional.
Participou no I Congresso Nacional de Arquitetura, em 1948, e, como arquiteto estagiário, fez parte, com Costa Martins, da comunicação Habitação Económica e Reajustamento Social.
Logo a seguir a terminar o curso, foi proposto para sócio do Sindicato Nacional dos Arquitetos, tendo fundado em 1952 o Movimento para a Renovação da Arte Religiosa. Entre 1948 a 1972 foi consultor de Habitações Económicas na Federação das Caixas de Previdência, tendo realizado o primeiro concurso para habitações de renda controlada.
Foi presidente do Conselho Diretivo Nacional da AAP nos mandatos 1984-1986 e 1987-1989 e em 1966 tinha sido Presidente da Secção Portuguesa da UIA - SPUIA. A nível internacional foi o primeiro delegado português ao Comité do Habitat da União Internacional dos Arquitetos em Bucareste, em 1966.
Teotónio Pereira era ainda membro honorário da Ordem dos Arquitetos, desde novembro de 1994, e Doutor Honoris Causa pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, desde 2003.
Um legado em obras
Mas não foi só teoria o legado que nos deixou, independentemente do valor que a sua reflexão teve num país onde a arquitetura não era sequer entendida como multidisciplinar e associada ao desenvolvimento social e económico.
Assinou obras como a Torre de Habitação, nos Olivais, o Edifício Franjinhas, na Rua Braamcamp, e a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, ou, mais recentemente, a interface do Cais do Sodré, que liga metro, comboio e barco, por exemplo. Trabalhos que lhe valeram o reconhecimento dos seus pares e da comunidade em geral. Com estes projetos tornados realidade, ganhou o 2º Prémio Nacional de Arquitetura da Fundação Gulbenkian, o Prémio AICA, e quatro prémios Valmor.
Também galardoados são seus o edifício na Rua Diogo Silves, nº 18, os edifícios na Rua Gonçalo Nunes nºs 31 – 45, ambos no Restelo, bem como um empreendimento de 144 fogos em Laveiras, concelho de Oeiras.
No entanto, terá sido o Bloco do Aqueduto das Águas Livres, em Lisboa, a sua obra mais grandiosa. Tal como o reconhecimento mais tardio, chegado em abril do ano passado: o Prémio Universidade de Lisboa, pelo exercício “brilhante” na área da arquitetura e como “figura ética”.
O país que amava
Conhecia o país de lés a lés, especialmente o Sul. Apaixonado por Marvão (concelho de Portalegre), onde reabilitou uma moradia, e onde atualmente vive o seu filho, revolucionou a noção de Arquitetura da região. Fez o mesmo em Beja, levando a autarquia a atribuir-lhe o prémio Espiga de Ouro, em 1993.
Amável, disponível e sempre empenhado, gostava de ouvir e compreender as dificuldades dos que o rodeavam, os problemas específicos de cada zona do país, para poder atuar perto das instâncias que achava mais adequadas e ágeis na solução dessas questões.
A saúde, porém, há muito que o impossibilitava de atuar como se habituou a viver a vida. A perda de visão e de audição e a muito fraca mobilidade física deixaram de lhe permitir a viagem e o relacionamento com a sociedade, sua preocupação de sempre.