“Onde é que eu ia?” é uma tentativa, várias vezes interrompida, de se apresentar a solo em palco. O que é que aqui retoma?
Várias coisas. Em Janeiro de 2005, decidi arriscar fazer sozinho uma espécie de Stand Up Comedy que se chamava “Nuno Artur Silva, a sério?”, onde falava sobre diversas coisas nesse registo de comédia, enquanto o Jorge desenhava e os Dead Combo tocavam. Estávamos ainda na primeira semana das apresentações quando fui convidado para integrar a administração da RTP e acabei por não o fazer. Quando, ao fim de três anos saí da RTP, retomei a ideia desse espetáculo, recomecei a prepará-lo com algumas alterações e já sem os Dead Combo, quando, inesperadamente, me convidaram para integrar o Ministério da Cultura, enquanto Secretário de Estado para o Cinema Audiovisual e Média, para trabalhar com a ministra de então, Graça Fonseca. Três meses depois de iniciar as minhas funções começou a pandemia. O que de algum modo também voltou a interromper todo o trabalho que estava a preparar. Quando finalmente a pandemia começou a desanuviar e ia retomar o plano de restruturação para o Cinema e o Audiovisual, caiu o governo. Portanto o ponto de partida deste “Onde é que eu ía?” é o que acontece na nossa vida quando estamos a planear qualquer coisa e de repente tudo muda. Neste caso, não mudou só o que aconteceu na minha vida mas também o que aconteceu ao país, desde logo com a pandemia, e também com o mundo com a guerra, a crise e a inflação.
Nesse sentido “Onde é que é ia”, é uma espécie de revisão de matéria?
Essa frase agrada-me muito enquanto título porque precisamente contém todas as possibilidades. Também há aqui uma outra dimensão, um pouco mais filosófica, e que basicamente tem a ver com esta ideia de percebermos que o homem é o homem e a sua circunstância. Aquilo que me interessou foi cruzar essa circunstância de eu ser um cómico em funções governativas. A narrativa começa pelos anos do governo, onde eu olho para esta realidade em que a pandemia paralisou completamente o setor cultural, mas depois também faço um recuo aos anos da minha passagem pela administração da RTP e acaba por ser sobre a passagem em que estive em funções de poder e em que, exatamente oito anos depois, regresso exatamente ao lugar do crime: o palco do São Luiz. A graça é que toda esta reviravolta, que aconteceu na realidade, parece ser uma reviravolta de argumento sobre um tipo que escrevia piadas, muitas delas sobre política, e que de repente está no governo a fazer política.