Quando ganhou o Prémio Helena Vaz da Silva, falou do papel dos artistas numa guerra. Qual é?
No início da guerra, fez-se logo a pergunta sobre se a arte é ou não política, se pode estar fora da política. Isto é muito complexo, porque a resposta é, ao mesmo tempo, ‘sim’ e ‘não’. Quando olhamos para a história da cultura, e estudamos as obras e o contexto em que foram criadas, vemos que os grandes artistas — Michelangelo, Mozart ou Beethoven — agiram dentro de uma sociedade, por vezes uns passos à frente dela. E é impressionante como foram capazes de pressentir o futuro ou os grandes cataclismos (veja-se o exemplo da Escola de Viena, de Gustav Mahler). Penso que as grandes obras nasceram para ser mensagens ou alertas fortes à sociedade. Não surgiram apenas para entreter: são canais para comunicar algo de importante. Hoje, a arte e os artistas continuam a ter esse papel, embora exista o problema de poderem ser usados para fins de propaganda.