Dados os precedentes, o desafio era arriscado: situar a ópera numa prisão. Emular “Fidelio” (1805), de Beethoven, ou “Da Casa dos Mortos” (1930), de Janácek, duas das mais comoventes óperas-primas de todos os tempos? Mediaticamente, porém, havia o trunfo do reconhecimento de um caso verídico: um bestseller, “Dead Man Walking” (A Última Caminhada, 1993) ou as memórias da Irmã Helen Prejean sobre a sua missão de conforto e conselho espiritual a condenados à morte na Penitenciária da Louisiana em Angola (que originara em 1995 o filme homónimo de Tim Robbins, e dera um Óscar a Susan Sarandon como melhor atriz). Eis a inspiração para a (primeira) ópera de Jake Heggie (n. 1961), com libreto de Terrence McNally — autor da peça “A Traviata de Lisboa” — que se estreou em São Francisco em 2000, e é hoje, com 75 produções, a ópera contemporânea mais representada nas Américas e Europa.
Com dificuldade em voltar a encher um auditório de cerca de 4 mil lugares em tempos pós-pandémicos, a Metropolitan Opera de Nova Iorque apostou esta temporada na ópera contemporânea: são-no quatro das seis novas produções, e há mais duas reposições de títulos de sucesso em anos anteriores. Ao todo, duas óperas do século XVIII, sete do XIX, quatro do XX e cinco do XXI. Desta vez o Met não se poupou a esforços: a excelência da Orquestra (Yannick Nézet-Séguin) e Coro (Donald Palumbo, na sua última temporada no Met) são dados adquiridos; um elenco melhor que bom e um encenador (Ivo van Hove) rigoroso e imaginativo; até a presença (na estreia) da Irmã Helen Prejean (agora com 84 anos) e de Frederica von Stade (a criadora do papel de Mrs De Rocher, mãe do condenado).