Há quase 3000 anos, talvez na segunda metade do século VIII antes da nossa era comum, um profeta hebraico anónimo, que foi o primeiro escritor do Livro de Isaías (seguiram-se dois outros que foram conhecidos pelo mesmo nome num intervalo de 500 anos), registou um convite universal que não tem paralelo na Bíblia Hebraica e contrasta com a sua narrativa guerreira e identitária: todos os povos serão acarinhados num banquete copioso, “Nestas montanhas o Senhor Sabaoth [o deus dos exércitos] fará/ para todas as nações./ Beberão alegria/ Beberão vinho” (Isaías 25:6-8).
Um século depois e dirigindo-se somente ao povo israelita, os compiladores do Deuteronómio insistiram no acesso a essa abundância: “O Senhor, teu Deus, vai-te conduzir para uma terra maravilhosa, onde há rios, fontes e nascentes que brotam nas planícies e nas montanhas. É terra de trigo e cevada, de vinha, de figueiras e de romãzeiras, terra de muito azeite e mel. É uma terra onde podes comer à vontade, pois lá não haverá falta de comida. (...) Ali comerás até ficares satisfeito” (Deuteronómio 8:7). A explicação detalhada da promessa é reveladora: água e vinho, trigo e cevada, figos e romãs, azeite e mel, é a descrição de camponeses para camponeses em tempos de angústia e fome. Mais ainda, a toda a gente era garantida a abundância, no nosso destino se comerá à vontade, ficarás satisfeito.