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A Revista do Expresso

“Hipérion ou o Eremita da Grécia”, de Friedrich Hölderlin. Por Pedro Mexia

Um romance epistolar em dois volumes que permite ver o avesso de Hölderlin

Hölderlin publicou as duas partes do romance em 1797 e 1799. Nesse tempo, sofria de hipocondria e atravessava dificuldades económicas
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Todo o entusiasmo anuncia uma decepção? É a impressão que nos deixa “Hipérion”, romance epistolar em dois volumes (1797 e 1799) onde se descobre o avesso daquele Hölderlin que escreveu que só crêem no divino aqueles que são divinos. Apesar da presença dos habituais motivos hölderlinianos de entusiasmo, como o amor, a Grécia e a natureza, a ideia mais flagrante aqui (também formulada num outro escrito em prosa) será talvez a de que a tragédia é um paradoxo entre duas verdades, a fortaleza e a debilidade, sendo a segunda mais forte do que a primeira.

Na medida em que existe uma narrativa, a narrativa do romance é esta: o jovem grego Hipérion, que anseia por uma Grécia Antiga rediviva, porque a imagina como súmula de todas as perfeições, decide juntar-se ao combate dos gregos contra os invasores otomanos (o mesmo fará, anos mais tarde, o poeta inglês Byron). É como se estivesse a resgatar, naqueles santos lugares, as “horas grandiosas” e os ideais de heroicidade. Como se libertar o Peloponeso fosse “tomar o Céu de assalto”. Mas o furor bélico de Hipérion, que ele vai relatando a um amigo alemão, Belarmino (cujas repostas não conhecemos), degenera em desilusão e infâmia, sentimentos que podem ser interpretados, como faz a tradutora e prefaciadora, como indício de uma desilusão com a Revolução Francesa, na qual Hölderlin depositara as suas esperanças políticas (o que dá origem a esta exclamação: “Sempre que o homem quis fazer do Estado o seu céu transformou-o num inferno”).