Prémio Nacional Turismo

Inteligência artificial ainda não sorri

Dificuldades. A hotelaria e a restauração dão os primeiros passos na implementação da IA. Para já, só 6,6% das empresas usam esta tecnologia, que para a grande maioria ainda é considerada um luxo

Em áreas com escassez de recursos humanos, a inteligência artificial pode libertar trabalhadores para funções mais relevantes
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Apenas 6,6% das empresas da área de alojamento e restauração em Portugal usam tecnologia de inteligência artifi­cial (IA). Os dados relativos a 2024 foram divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Reconhecendo o atraso do sector, o Turismo de Portugal justifica a situação com “dificuldades ao nível das competências internas, potenciais custos de implementação e dificuldades no acesso ou qualidade dos dados”. Para superar estes obstáculos e acelerar a transição está a atuar em conjunto com o NEST — Centro de Inovação do Turismo. Já no início de junho arranca um curso de IA para turismo, online e gratuito, para ajudar a tirar partido do sistema e olhar para oportunidades ou limitações, tendo em conta que as tecnologias estão em desenvolvimento e apresentam questões em matérias de segurança e ética. Roberto Antunes, diretor executivo do NEST, anuncia ainda a disponibilização de uma ferramenta para aferir o grau de maturidade digital, que inclui a IA e procura captar informações básicas para segmentar dados turísticos, da restauração às agências de viagens.

Ana Jacinto, secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), prevê que um terço das funções em Portugal seja automatizado e aponta como grande desafio “requalificar os trabalhadores para as novas exigências do mercado, caso contrário, o défice de competências, já evidente, pode agravar-se”. A resistência à mudança, a ausência de uma cultura organizacional voltada para a inovação tecnológica e a pressão fiscal elevada reduzem significativamente a margem de investimento em inovação. “Sem financiamento acessível, a inovação torna-se um luxo e não uma alavanca de competitividade”, alerta. Apesar de “a IA ainda não sorrir”, nas áreas com escassez de recursos humanos pode ajudar a libertar trabalhadores para funções mais relevantes, permitindo “ganhos de produtividade, qualidade e diferenciação”. Ao mesmo tempo, potencia a análise de dados em larga escala, “úteis na identificação de tendências de mercado e na tomada de decisões”, exemplifica Ana Jacinto.

Tiago Veiga, diretor de marketing do Grupo Plateform, que gere 150 restaurantes, destaca que a empresa já adotou a utilização de IA e Voz Natural para atendimento telefónico e marcação de reservas, garantindo que as chamadas são atendidas a qualquer hora, dando resposta a várias geografias e horários. É também usada na alocação de turnos de trabalho e na área de forecast de vendas e consumos, interpretando padrões e recolhendo informações sobre alergias, intolerâncias alimentares e preferências de mesas ou de pratos.

Vanguarda hoteleira

Na hotelaria, são as grandes cadeias que já recorrem à IA na otimização de preços, análise de comportamento do cliente e apoio à decisão. Na ausência de dados atualizados, Cristina Siza Vieira, vice-presidente executiva da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), perceciona que uma parte importante das unidades de alojamento já utilizam soluções assentes em IA em áreas como a personalização da experiência do hóspede, manutenção de equipamentos ou reporte de maus funcionamentos e resposta a reclamações. Existem ferramentas a operar em tempo real que ajustam tarifas consoante a procura ou automatizam o atendimento através de chatbots multilingues. “Ainda que a hotelaria seja early adopter, a maturidade digital das empresas hoteleiras portuguesas não é toda a mesma e são sobretudo as grandes cadeias e algumas unidades independentes mais viradas para a tecnologia que já avançaram com projetos consistentes de digitalização e incorporação de IA.”

No Yotel Porto, a inteligência artificial e a automação andam de mãos dadas. A receção é feita em quiosques de self check-in, enquanto robôs circulam pelos corredores a entregar toalhas ou snacks. Cantam e lançam expressões típicas como “Sai da frente, ó morcão!” Nos quartos, a IA entra em ação com sensores de presença que ativam luzes e climatização. Na operação, analisa padrões de ocupação, antecipa necessidades e ajuda a distribuir recursos de forma mais eficiente. Para este alojamento, a tecnologia é vista como uma vantagem competitiva, já que mais de 70% dos viajantes valorizam soluções digitais autónomas.

Tudo o que tem de saber sobre o PNT

O QUE É

O Prémio Nacional de Turismo (PNT) destaca e dá visibilidade a projetos no sector. A iniciativa do Expresso e do BPI conta com o apoio institucional do Turismo de Portugal, IP, e apoio técnico da Deloitte.

CATEGORIAS

Turismo Azul (nova) Projetos turísticos onde o elemento água é parte integrante do modelo de negócio, através de ambientes aquáticos naturais, como o mar, os oceanos, as zonas costeiras, os rios, os lagos, as albufeiras.

Turismo Comunitário (nova) Projetos que tenham impacto positivo na melhoria da qualidade de vida da comunidade e estimulem a colaboração e a comunicação com os turistas.

Turismo Autêntico Projetos que apresentem oferta abrangente e equilibrada do ponto de vista territorial, bem como da utilização de recursos locais.

Turismo Gastronómico Projetos que se destaquem por oferta gastronómica diferenciada e autêntica, alicerçada na valorização da gastronomia regional e nacional.

Turismo Inclusivo Projetos comprometidos em garantir que os turistas, independentemente de condições físicas, sensoriais, cognitivas ou outras, possam desfrutar das riquezas culturais e naturais.

CANDIDATURAS

Candidaturas efetuadas até 31 de maio, exclusivamente online, na página do Prémio Nacional de Turismo, em candidaturas.premionacionalturismo.pt/