Em 2024, Portugal registou um número recorde de festivais de música: 358, com um total de 2,5 milhões de espectadores, entre público nacional e internacional. Apesar de ser impossível quantificar o valor gerado pelos “turistas da música”, o impacto na economia é reconhecido tanto por entidades oficiais como por empresários.
No interior do país, o Boom Festival tem sido exemplo de atração e consequente dinamização do território há mais de 30 anos. Ainda antes de ser anunciado o cartaz do espetáculo agendado para julho, os 40 mil bilhetes foram vendidos para 169 países. Entre as nacionalidades mais representadas destacam-se, além de Portugal, França, Alemanha e Reino Unido. Armindo Jacinto, presidente da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, salienta a “notável capacidade de atrair fluxos turísticos, assumindo-se como um evento-âncora que motiva a deslocação, sobretudo de não residentes, cuja permanência no país tende a estender-se para além da duração do festival”. Um estudo da Ernst & Young de 2020 aponta para 103 mil dormidas de boomers em território nacional. O impacto económico direto no concelho ascendeu a €2,6 milhões e, em termos de Valor Acrescentado Bruto, o Boom Festival contribuiu com um acréscimo de €29,3 milhões para a economia portuguesa. Também longe das grandes cidades, Paulo Pereira, um dos fundadores do Vodafone Paredes de Coura e presidente da autarquia, qualifica-o com “uma fábrica que, além de criar riqueza que fica no território, contribui para a afirmação do concelho como exemplo de modernidade, criatividade e cultura e serve de oportunidade para as pessoas conhecerem e fruírem o território do ponto de vista turístico”.
Com a época alta de eventos musicais a começar, o Turismo de Portugal promove uma campanha internacional digital denominada “Portugal Music Festivals Headliners”, com foco em Espanha, Alemanha, Reino Unido e Países Baixos. “A cultura é um ativo turístico central e estará presente na nova Estratégia Turismo 2035”, anuncia Carlos Abade, presidente do Turismo de Portugal, que realça a importância dos festivais de música pela “capacidade enorme de dinamizar as economias locais e de promover o turismo por todo o território, com um público que alarga a estada e acaba por fruir da oferta complementar”. O responsável exemplifica: “Na cultura incluímos a gastronomia, as Rotas das Fortalezas, os Caminhos de Santiago, o turismo literário, e é isso que nos distingue enquanto país e na oferta turística. Assim, ligar a cultura ao turismo é essencial para trazer mais valor para o país.”
Música, praia e gastronomia
Os festivais são “ativos estratégicos fundamentais na promoção turística de Portugal e para posicionar Lisboa como destino de cultura, entretenimento e experiências únicas”, considera Luís Soares, diretor de Marketing do Rock in Rio Lisboa. Por se tratar de uma marca global, o responsável sublinha a projeção em mercados como Brasil, Espanha ou Estados Unidos. Segundo um estudo da Nova SBE, a última edição, já no novo recinto e com 106 nacionalidades presentes, teve um impacto económico total estimado em €120 milhões. Em 2026 o festival “será focado na maior captação de público estrangeiro, com um plano de internacionalização mais intenso e estruturado, campanhas nos mercados estratégicos europeus, criação de produtos específicos de hospitalidade e experiência pensados para turistas e empresas internacionais, parcerias com operadores turísticos, redes hoteleiras e companhias aéreas, assim como ativações exclusivas para o segmento corporate e premium”, anuncia Luís Soares.
“Sem monumentos como os que existem em Paris ou Roma, a grande oportunidade para aumentar a estada média, e até para atrair visitantes, são os conteúdos culturais. A música ao vivo é dos que mais têm resistido às tecnologias, porque não é replicável”, aponta Álvaro Covões, diretor do Festival NOS Alive. Com um impacto económico direto de €60 milhões, o festival que decorre no Passeio Marítimo de Algés, em julho, terá um público onde se contam mais de 80 nacionalidades. O empresário evidencia ainda que 80% dos festivaleiros ficam por “cinco dias ou mais” na região de Lisboa, aumentando a permanência média e, por isso, duplicando a receita turística: “Podem ir à praia ou fazer surf de manhã, à hora de almoço experimentar a gastronomia portuguesa ou visitar a área envolvente de Lisboa, como Cascais e Oeiras, porque a música só começa a meio da tarde, e os mais afoitos ainda podem ir para a night life”, remata.
Tudo o que tem de saber sobre o PNT
O QUE É
O Prémio Nacional de Turismo (PNT) destaca e dá visibilidade a projetos no sector. A iniciativa do Expresso e do BPI conta com o apoio institucional do Turismo de Portugal, IP, e apoio técnico da Deloitte.
CATEGORIAS
Turismo Azul (nova) Projetos turísticos onde o elemento água é parte integrante do modelo de negócio, através de ambientes aquáticos naturais, como o mar, os oceanos, as zonas costeiras, os rios, os lagos, as albufeiras.
Turismo Comunitário (nova) Projetos que tenham impacto positivo na melhoria da qualidade de vida da comunidade e estimulem a colaboração e a comunicação com os turistas.
Turismo Autêntico Projetos que apresentem oferta abrangente e equilibrada do ponto de vista territorial, bem como da utilização de recursos locais.
Turismo Gastronómico Projetos que se destaquem por oferta gastronómica diferenciada e autêntica, alicerçada na valorização da gastronomia regional e nacional.
Turismo Inclusivo Projetos comprometidos em garantir que os turistas, independentemente de condições físicas, sensoriais, cognitivas ou outras, possam desfrutar das riquezas culturais e naturais.
CANDIDATURAS
Candidaturas efetuadas até 31 de maio, exclusivamente online, na página do Prémio Nacional de Turismo, em www.premionacionaldeturismo.pt