Prémio Nacional Turismo

Regenerar o ambiente através do turismo

Tempo e resiliência. Atento a uma necessidade cada vez mais urgente, o turismo regenerativo vai além da sustentabilidade: objetivo é melhorar o destino através da natureza e das comunidades locais

Na serra da Estrela, o Chão do Rio trabalha para a diversidade na Floresta da Esperança, mas é preciso tempo: as ações implementadas demoram a dar frutos
Pedro Ribeiro

Tornar a atividade turística mais sustentável é um imperativo. Mas já não basta minimizar o impacto negativo causado pelo sector, é preciso promover um crescimento saudável a longo prazo, devolver mais do que se tira, regenerando os solos, melhorando os ecossistemas e contribuindo para as comunidades locais, enquanto se oferecem experiências autênticas aos visitantes. É esta a missão do turismo regenerativo, apontado como uma tendência para o futuro e que visa deixar o destino melhor do que se encontrou.

“O ideal é tirar o mínimo possível e devolver com crédito para ter um saldo positivo”, explica Patrícia Araújo, diretora-geral da Biosphere em Portugal, empresa de consultoria e apoio técnico especializado na implementação de práticas sustentáveis para além da minimização dos impactos negativos. “As grandes orientações europeias ditam que todos vamos ter de trabalhar neste domínio à medida que cresce a necessidade de ação de urgência”, refere, acrescentando que “a procura por experiências que contribuem positivamente para os ecossistemas e comunidades locais” é cada vez maior.

Um morango como primeira pedra

No Areias do Seixo Hotel, em Santa Cruz, o caminho começou dois anos antes da inauguração, em 2010, e por isso dizem que a primeira pedra do projeto foi um morango. “Arrancámos com a horta em permacultura, que nessa altura não era verde, mas dourada, já que ali se encontravam dunas de areia. Começámos por planificar o local, criando, por exemplo, barreiras de vento naturais com vegetação. Depois introduzimos espécies, mantendo a diversidade, sem usar fertilizantes ou pesticidas. Em cinco anos começámos a ver os resultados: de um terreno seco, com areia dourada, passámos a ter terra escura e fértil”, conta Gonçalo Alves, um dos proprietários.

Também o projeto Terramay, no Alandroal, junto ao Alqueva, começou com uma quinta de agricultura regenerativa para combater a desertificação dos solos. Hoje, na horta de permacultura “não entra nada químico”. Anna de Brito, cofundadora do projeto, assegura que o turismo surgiu como uma “segunda vertente”: no restaurante Raya os visitantes podem provar “90% dos ingredientes” oriundos do solo e do rio. “Em vez de fugirmos para o espaço, devíamos olhar para o solo à nossa frente e ver o impacto negativo que fizemos nos últimos 200 anos com a industrialização”, considera.

Resiliência e tempo para atingir resultados

Um dos desafios do conceito “regenerativo” é o tempo e a resiliência que o processo implica. “Estamos numa cultura contrária, de imediatismo, mas os resultados da regeneração em ecossistemas naturais ou sociais demoram muito, nunca são de uma geração. É preciso tempo para a validação científica e para a certificação”, avisa Patrícia Araújo. No sopé da serra da Estrela, o turismo rural Chão do Rio reservou quatro hectares para a Floresta da Esperança, uma área de regeneração onde querem voltar a ter floresta autóctone, uma charca para a fauna local e um reservatório “com plantas para tratar a água”, que serve para regar e em caso de incêndio, explica Catarina Vieira, gerente do projeto. “Tem havido incêndios na região e os campos ficam cada vez mais pobres e com árvores infestantes. Estamos a contrariar isso e a trabalhar para a diversidade, envolvendo os hóspedes, mas também instituições e escolas”, conta. “Imagino que daqui a 30 anos vai existir um carvalhal, mais água e animais”, prevê.

Envolver turistas e comunidade

São mais de 50 mil as árvores plantadas por Martina e João Almeida nos 14 hectares do Gandum Village, em Montemor-o-Novo. Também cultivam alimentos em “agrofloresta sintrópica”, que imita o processo da natureza; procuram ter impacto zero no consumo energético e medem toda a água utilizada. “No fim da estada, o hóspede vê quanto consumiu. Se for abaixo do recomendado, recebe um voucher. Se for acima, leva um livro sobre como poupar água”, explica João. Criar um “envolvimento social mais vinculativo” é também o objetivo de Lina Paz na Casa dos Corações, em Marvão: “Queremos que as pessoas vão aos mercados locais e tenham a expe­riência de viver numa casa onde tudo é reciclado.” No final, pedem aos turistas para levarem o lixo, de modo a terem noção do que produziram.

Apesar da reconhecida evolução do turismo regenerativo, o conceito ainda enfrenta algum ceticismo em comparação com o turismo sustentável, por carecer de metodologia regulada e certificação. No entanto, “tudo o que atua no domínio da sustentabilidade acaba por abranger princípios, valores e práticas que incentivam ações que não se limitam a mitigar mas também a restaurar os ambientes”, garante Patrícia Araújo. A especialista insiste na importância de uma visão a longo prazo que permita aos projetos ganharem maturidade e trazerem resultados.

Tudo o que tem de saber sobre o PNT

O QUE É

● O Prémio Nacional de Turismo (PNT) destaca os melhores e dá visibilidade a projetos com valor no sector do turismo em Portugal. A iniciativa do Expresso e do BPI conta com o alto patrocínio do Ministério da Economia e do Mar, o apoio institucional do Turismo de Portugal, I.P., e o apoio técnico da Deloitte.

CATEGORIAS

● Turismo Autêntico Projetos que apresentem oferta abrangente e equilibrada do ponto de vista territorial, bem como da utilização de recursos locais.

Turismo Gastronómico Projetos que se destaquem por oferta gastronómica diferenciada e autêntica, alicerçada na valorização e promoção da gastronomia regional e nacional.

Turismo Inclusivo Projetos que promovam um reforço da relação com o consumidor através da comunicação ou de iniciativas que visem a sua inclusão e fidelização.

Turismo Inovador Projetos que apresentem uma oferta inovadora e a utilização de ferramentas e meios digitais para a comunicação, distribuição e análise do desempenho.

Turismo Sustentável Projetos que se distingam pela sustentabilidade ambiental, económica e responsabilidade social subjacentes à estratégia de médio/longo prazo.

DATAS MAIS IMPORTANTES

Candidaturas 1 março -7 junho.

Avaliação 8 junho – 30 setembro.

Reunião de comités e júri outubro e novembro.

Entrega de prémios novembro.