O conceito de turismo de saúde vai além do procedimento médico. Engloba experiências de bem-estar, hotelaria, passeios, nutrição, retiros e contacto com a natureza, elementos que contribuem para a prevenção e cura. Tem subjacente o turismo médico, relevante para atrair mercados internacionais, cujas viagens são motivadas pela procura de um serviço médico. É reconhecido o potencial de ambos, mas a ideia de transformar o turismo médico numa alavanca para o turismo de saúde é ainda um trabalho em progresso em Portugal. Joaquim Cunha, diretor-executivo do Health Cluster Portugal (HCP), organização para a promoção do turismo médico, pormenoriza que a ideia de criar oferta turística “com prestação de cuidados, hotel, transfers e divertimento para os acompanhantes está desatualizada, porque a experiência diz que o cliente coloca todo o foco em encontrar o que procura — sobretudo o médico — numa referência que corresponda às suas necessidades”. Para receber quem se desloca a Portugal com este objetivo, os grupos de saúde parceiros do HCP — grupo José de Mello Saúde/CUF, Luz Saúde e Lusíadas, que representam 80% da oferta privada de hospitalização — já criaram estruturas próprias de acolhimento.
Eve Jokel, diretora do International Patient Services (IPS) da Luz Saúde, concorda: “Nunca sentimos existir interesse em pacotes que incluam hotel, transporte, serviços de concierge ou passeios”, mas assinala “um crescimento de clientes internacionais em linha com o aumento de estrangeiros no país e novos residentes”. Lisboa tem a maior concentração de turistas e residentes estrangeiros, representando “mais de 50% do total de clientes internacionais da rede Hospital da Luz, provenientes principalmente de Angola, Brasil, França, China e Itália”, detalha.
€100 milhões por ano
A ambição para o turismo médico em termos de volume de negócios foi anunciada em 2019, aquando da assinatura do protocolo de colaboração entre a HCP, AICEP, Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP) e Turismo de Portugal: €100 milhões anuais até 2025. Joaquim Cunha reitera que o valor “continua a ser um objetivo”, sem assumir uma meta temporal, já que o caminho ascendente foi interrompido pela pandemia.
No Porto, a Clínica Espregueira — Dragão registou em 2022 um aumento de clientes de 15% face ao ano anterior. Já atendeu pessoas oriundas de 70 países que procuram tratamentos médicos e cirurgia deslocalizada e deve o sucesso à especialização e à acreditação: “A clínica é referenciada em todo o mundo como centro cirúrgico do sistema locomotor”, refere o diretor, João Espregueira Mendes. Faz a ponte para o turismo de saúde com uma atenção: “Todos os pacientes contam com a oferta de visita guiada antes da cirurgia, para relaxar, conhecer costumes e tradições e saborear a gastronomia local.”
Em Alvor, no Algarve, Nazir Sacoor, CEO do Longevity Wellness Worldwide, também recebe maioritariamente estrangeiros. Correspondem a 82% dos clientes do Longevity Health and Welness Hotel e procuram “programas integrados de relaxamento, emagrecimento, reequilíbrio energético ou saúde da mulher”, entre outras propostas, com enfoque “na prevenção da doença e regeneração da saúde através de um diagnóstico diferenciado, desintoxicação e depuração do organismo e medicina anti-aging”, complementados por “soluções em meio hospitalar (no Hospital do Alvor), como check-ups completos, reabilitação desportiva e física e cirurgia plástica, na ótica do turismo médico”.
Interior oferece projetos inovadores
A meia hora da serra da Estrela, o New Life, em Folgosinho, no concelho de Gouveia, é fruto de “uma procura crescente do mercado europeu por turismo relacionado com a saúde física e mental, para aliviar stresse, prevenir e tratar burnouts, auxiliar na transição de vida, melhorar o bem-estar e qualidade de vida”, afirma Luís Cunhal, managing director do centro de bem-estar. Oferece uma proposta integrada, que consiste no contacto com a natureza, entre arvoredo e ar puro, estada, atividades, acompanhamento médico, reeducação nutricional e retiros de silêncio. Em 2022, a procura cresceu 5% a 10% face ao ano anterior, com o Reino Unido, a Alemanha, os Países Baixos e a Bélgica a destacarem-se como principais mercados. Os programas de tratamento mais extensos, de 28 noites, são os mais requisitados.
Vítor Leal, presidente da Associação das Termas de Portugal, fala “numa preocupação com o ambiente que leva os turistas a procurar destinos menos massificados e contacto com a natureza”. Apesar de a procura internacional pelo termalismo ser residual (10%, sobretudo espanhóis e franceses), “esse público está a chegar gradualmente ao interior” e “com as campanhas e políticas de estruturação dos produtos destes destinos ligados à oferta hoteleira, que está a ser requalificada, como o Vidago Palace e as Pedras Salgadas, estâncias termais ao nível do melhor que existe na Europa, o mercado externo vai aumentar”.
Nuno Fazenda, secretário de Estado do Turismo, aponta para o trabalho que tem vindo a ser feito de “ligação entre os vários atores no domínio das infraestruturas de equipamento de saúde, conjuntamente com o sector de turismo, que nos permite olhar para a diversificação da nossa oferta turística e também para se atingirem novos segmentos”, num sector, como o turismo de saúde e bem-estar, que considera “uma das prioridades da Estratégia Nacional de Turismo”. Para o governante, o desafio passa por “ganhar escala e notoriedade no turismo de saúde, um segmento que pode ser um contributo importante para diversificação da oferta e procura turística para a coesão territorial e para atenuar a sazonalidade”.
PNT COM RECORDE DE CANDIDATURAS
- A primeira fase da V edição do Prémio Nacional de Turismo fica marcada pelo maior número de candidaturas de sempre, desde o início, em 2019. Até 31 de maio de 2023 foram recebidas e validadas 768 candidaturas, com a maior fatia a incidir na categoria de Turismo Autêntico (247), logo seguida do Turismo Gastronómico (236) e do Turismo Sustentável, que recebeu 112 candidaturas, quase tantas como o Turismo Inovador (108). Por último, foram 65 os projetos candidatos à distinção na área do Turismo Inclusivo.No que respeita à localização, Porto/Norte destaca-se como a região de onde são provenientes mais projetos (194), logo seguida do Centro, com 145 projetos, e de Lisboa, que candidatou 139. Alentejo (91), Algarve (78), Açores (61) e Madeira (60) completam o total de candidaturas recebidas. Segue-se agora a fase de avaliação, que decorre até 31 de setembro, e de reuniões de comité e júri. Os vencedores do Prémio Nacional de Turismo 2023 são conhecidos em dezembro.
TUDO O QUE TEM DE SABER SOBRE O PNT
O QUE É
- O Prémio Nacional de Turismo (PNT) destaca os melhores e dá visibilidade a projetos com valor no sector do turismo em Portugal. Turismo Autêntico, Turismo Gastronómico, Turismo Inclusivo, Turismo Inovador e Turismo Sustentável são as categorias premiadas. A iniciativa do Expresso e do BPI conta com o alto patrocínio do Ministério da Economia e da Transição Digital, o apoio institucional do Turismo de Portugal, IP e com o apoio técnico da Deloitte.
DATAS MAIS IMPORTANTES
- Avaliação: 1 junho a 31 de julho
- Reunião de comités e júri: outubro
- Entrega de prémios: dezembro Acompanhe tudo AQUI
PRÉMIO NACIONAL DE TURISMO
O Expresso e o BPI, em parceria com o Turismo de Portugal e a Deloitte, promovem pelo quinto ano consecutivo o Prémio Nacional de Turismo (PNT), uma iniciativa para promover, incentivar e distinguir as melhores empresas, práticas e projetos do sector.
Textos originalmente publicados no Expresso de 16 de junho de 2023