Num artigo de opinião publicado esta quinta-feira no "Diário de Notícias", ironicamente intitulado "Filhos da PT", o jurista e professor universitário João Taborda da Gama, filho do antigo dirigente socialista Jaima Gama, desmente o boato que circula pela Internet pelo menos desde 2010, segundo o qual faria parte dos quadros da Portugal Telecom.
Seria apenas um de uma longa lista de filhos de políticos influentes que "nunca fizeram nada na vida sem ser viver da política", pode ler-se num dos fóruns onde a lista foi publicada, e que teriam colocado os seus filhos a trabalhar nesta operadora de telecomuncações.
"A Portugal Telecom é um dos exemplos daquilo a que a minha querida mãe [a professora Alda Taborda] chama 'um belo emprego'. Os 'belos empregos' juntam uma boa remuneração, algum estatuto social e, sobretudo, uma segurança laboral vitalícia só equiparável ao papado", escreve João Taborda da Gama, para logo reconhecer: "Mas o mundo mudou, como dizia o outro. Foi Bento XVI no Vaticano e o Espírito Santo na PT e, em pouco mais de dois anos, os empregos para a vida acabaram."
"A obsessão com a PT é uma questão geracional: para uns, a companhia dos telefones preencheu o imaginário de progresso e técnica, num país que passou demasiado rápido do pombo-correio ao telefone; para outros, a miragem de uma manjedoura pública infinita", faz notar sempre num registo profundamente irónico João Taborda da Gama para logo a seguir constatar o surgimento "nos últimos tempos" de um grupo a que apelida de "órfãos da PT", numa clara alusão aos subscritores do "Apelo para Salvar a PT" no qual personalidades como Bagão Félix, Francisco Louçã, Freitas do Amaral e Manuel Carvalho da Silva, entre outros, exigem "das autoridades políticas e públicas uma atuação intensamente ativa" na empresa.
"Como as Mães de Bragança que não queriam mãos brasileiras nos coldres dos esposos, estes patriotas não querem agora sotaque tropical, de Angola ou do Brasil, na joia da Nação", escreve João Taborda da Gama para quem "o Estado nunca exerceu o poder que devia na PT, nem quando era pública nem quando era privada. Não exerceu quando era pública porque dava jeito o dividendo e não exerceu quando era privada em virtude da simpatia para com alguns, poucos, acionistas privados "estratégicos" e pelos milhões de acionistas pequenos nascidos do capitalismo popular de Guterres eufóricos com a subida das ações e cegos quanto ao preço das chamadas e outras coisas."
"O paradoxo PT é precisamente este: com a PT Portugal fora da Bolsa e, desejavelmente, em mãos estrangeiras, o Estado vai finalmente poder fazer o que deve, sem medo de irritar ninguém", acrescenta o articulista.
A concluir deixa uma sugestão: "ir ao grande Carlos Drummond de Andrade, pegar no seu poema "A Puta" e tirar apenas o u e o a, substituindo meretriz por PT. Fica assim uma coisa linda para ser declamada, em voz canora, numa qualquer vigília frente ao Fórum Picoas, numa noite chuvosa de inverno".